Minas Gerais
16h26 24 Maio 2019
Atualizada em 24/05/2019 às 16h29

Chance de rompimento de barragem leva medo a Barão de Cocais: ‘Perdemos várias noites de sono’

Por BHAZ

Com a proximidade do término do prazo estipulado pela mineradora Vale S.A. para que ocorra o rompimento do talude norte, na cava da Mina de Gongo Soco, o clima é de apreensão e medo entre os moradores de Barão de Cocais, na região Central de Minas Gerais.

Mesmo com o sentimento que rodeia a cidade, o tenente-coronel Flávio Godinho, coordenador adjunto da Defesa Civil, busca tranquilizar a população. “O talude se movimenta diariamente e nesta manhã [sexta-feira] foi de 12 cm. Fazemos o monitoramento durante 24 horas. Estamos com todo o efetivo para dar segurança e tranquilidade aos moradores”, disse.

Godinho destacou que não há a certeza de que a barragem Sul Superior se romperá após o talude. “Isso é uma possibilidade e nós trabalhamos com o pior dos cenários”. Para treinar a população, caso a estrutura se rompa, simulados foram realizados ao longo das última semanas.

Segundo Maxwell Andrade de 31 anos, que é morador da cidade, pela terceira vez a comunidade está sob alarde. “A possibilidade de rompimento da barragem existe, com o agravante do talude. Já perdemos várias noites de sono, inclusive com o cenário que está sendo montado agora. Moro na área secundária, que seria atingida [caso tudo se rompa], onde vivem 6 mil moradores. A nosso ver, parece uma brincadeira da Vale. Entendemos os riscos, mas nada ocorreu até agora: pode ocorrer ou não”, conta.

Angústia após Brumadinho

Segundo Maxwell, a angústia teve início com a primeira evacuação dos moradores da área de autossalvamento, em 8 de fevereiro, menos de um mês após a tragédia socioambiental de Brumadinho. Cerca de 450 pessoas que viviam nos distritos de Socorro, Tabuleiro e Piteira, os três próximos à barragem, também foram retiradas de suas casas.

“Todos foram acordados no meio da noite, inclusive a gente que vive próximo ao Córrego São João. Depois, em 22 de março, houve a grande confusão do alarme ter soado, elevando o nível do risco de rompimento de Gongo Soco de 2 para 3. Tivemos acesso ao Plano de Ação de Emergência para Barragens (Paebm) e lá não estava descrita a necessidade da retirada das pessoas. Agora, estamos com essa história do talude que pode afetar a barragem. O fato é que não confiamos em nada que a Vale diz. A empresa perdeu toda sua credibilidade no país inteiro e na comunidade”, diz.

A possibilidade de que o talude não se rompa no sábado criará, conforme disse o tenente-coronel Godinho, uma “iniciação de desespero” nos moradores. “Amanhã todos vão ficar olhando a movimentação e pensando em que momento acontecerá o rompimento? Mas, e se ele não acontecer? Por isso, nós não podemos potencializar as notícias ruins na cidade. A comunidade já sofre com o atual cenário”, disse.

Godinho ainda destacou que a data divulgada pela Vale para o rompimento do talude é uma “projeção”, não uma certeza. “Pode ceder até amanhã? Pode. Como também não pode. Pode passar uma semana, porque a gente não tem uma certeza técnica de quando vai ser. O que a gente tem é uma projeção de que será até amanhã”.

O medo que ronda a cidade de que algo pior aconteça reflete na saúde das pessoas. O servidor público confirma as notícias de que pessoas estão depressivas com toda a história. “Tivemos alguns casos de tentativas de suicídio. Uma vizinha minha, de 55 anos, estava se automutilando e, depois de muito pressionarmos, a Vale fez a remoção dela ontem (quinta-feira), para um hotel. As pessoas que tiveram de deixar suas casas em fevereiro e não puderam voltar para pegar nada estão arrasadas: alguns imóveis foram saqueados e suas vidas estão sem definição até hoje”, completa.

Talude

O talude é a parede da cava, que se encontra atrás da barragem. A estrutura demonstrou uma movimentação, o que indica uma possível queda de uma rocha no interior da cava. Segundo os técnicos, não se pode precisar o tamanho exato da rocha, tão pouco quando pode acontecer.

 
 
 
 

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