Política
07h30 19 Julho 2025
Atualizada em 19/07/2025 às 07h30

Bolsonaro Se diz vítima de 'suprema humilhação' e nega intenção de fuga

Por Guilherme Caetano, Cícero Cotrim, Luiz Araújo, Renan Monteiro, Juliani Galisi, Naomi Matsui e Maria Magnabosco Fonte: Estadão Conteúdo

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reagiu nesta sexta-feira, 18, à operação que o atingiu, afirmou que as medidas restritivas impostas pela Justiça são uma "suprema humilhação" e disse que nunca pensou em sair do País ou se refugiar em uma embaixada. "Isso é humilhação (usar tornozeleira eletrônica). Como não tem nada de concreto, ficam o tempo todo fustigando. Foi uma surpresa estar com a Polícia Federal na minha porta", declarou ele.

Bolsonaro concedeu uma entrevista a jornalistas após colocar a tornozeleira, na Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, em Brasília - o uso do equipamento foi uma das medidas cautelares determinadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. "Este é um novo inquérito, estou também dentro dele", disse o ex-presidente sobre a investigação aberta depois que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o tarifaço contra o Brasil.

Em outra entrevista, concedida à agência Reuters, Bolsonaro afirmou que prevê sua prisão até agosto, no âmbito do julgamento que enfrenta no Supremo sobre a tentativa de golpe de Estado. A Procuradoria-Geral da República (PGR) entregou as alegações finais à Corte e pediu a condenação de todos os réus do "núcleo crucial" da trama golpista.

'Cadafalso'

"O sentimento é de que (a prisão) vai acontecer até o mês que vem, que é o julgamento. Nunca se viu um processo tão rápido como o meu", disse Bolsonaro ao ser questionado sobre o assunto. "Eu estou no cadafalso. Na hora que o soberano Alexandre de Moraes achar que tem que chutar o banquinho, ele chuta."

O ex-presidente se emocionou durante a entrevista ao falar do filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos e também é investigado. Bolsonaro disse que, de todas as restrições, a mais dura é a de não poder mais conversar com o filho, com quem afirmou falar "dia sim, dia não".

"Acredito que ele não voltará. Se voltar, vai ser preso. O Eduardo é um garoto inteligente, fala inglês muito bem, fala espanhol, domina o árabe. Tem bom relacionamento com o governo Trump. Eu acredito que ele vá buscar uma alternativa de se tornar um cidadão americano e não volte mais para cá. Enquanto o Alexandre de Moraes tiver o poder de prender quem ele bem entender", afirmou.

'Incômodo'

Aos jornalistas após instalar a tornozeleira, Bolsonaro disse que Eduardo não articulou a imposição de tarifas sobre os produtos brasileiros. "Foram do Trump", afirmou. A resposta, no entanto, contradiz declarações do próprio ex-presidente e de seu filho, que admitiram a movimentação nos EUA na tentativa de obter apoio do americano.

Bolsonaro declarou também que as medidas anunciadas pelos EUA expõem um "incômodo" de Trump com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O Lula teima, fica ao lado de ditadores: China, Rússia, Irã, Venezuela. E outra coisa: o que incomodou o governo americano, e muito, foi, por ocasião do Brics, o Lula falar em um novo padrão monetário, quer o dólar fora das negociações do Brics, entre outras coisas que ele fez", disse.

No encontro do Brics, no início de julho, no Rio, Lula criticou as ameaças de Trump de impor tarifas às nações que se aliassem ao bloco econômico e falou em alternativas ao dólar como moeda do comércio internacional. "Em 2019 não teve tarifa no aço ou alumínio, porque eu falava com Trump", disse Bolsonaro ontem.

Família

Os filhos de Bolsonaro saíram ontem em defesa do pai. Eduardo afirmou, em uma publicação em inglês, que Moraes "dobrou a aposta" ao autorizar a operação da Polícia Federal e impor medidas cautelares. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por sua vez, disse que "o ódio tomou conta" do ministro do STF e que as restrições são "covardes".

O vereador Carlos Bolsonaro (PL), do Rio, também se manifestou, dizendo que "não é fácil ver o homem que mais admiro sendo tratado dessa forma". Vereador de Balneário Camboriú (SC), Jair Renan (PL) afirmou que seu pai "sempre lutou pela liberdade, pela verdade e pelo povo".

A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) fez uma publicação nas redes em apoio ao marido em que cita um versículo bíblico. "Senhor, Te amarei e Te louvarei por todos os dias da minha vida. Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor", postou ela. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que, diante da situação de Bolsonaro, Michelle deve assumir a liderança do que chamou de "nação conservadora".

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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