Brasil
06h18 22 Maio 2020
Atualizada em 22/05/2020 às 09h30

Covid-19 já mata proporcionalmente mais que a maior causa de mortes no Brasil

Por Daniele Franco - O Tempo
Michael Dantas - AFP
Brasil ultrapassa a marca de 20 mil mortes por Covid-19
Sessenta e seis dias após a confirmação do primeiro óbito por Covid-19, o Brasil alcança a marca de 20.047 mortes pela infecção. A primeira vítima morta foi identificada no dia 16 de março. O número registrado nessa quinta-feira (21) já supera a média de mortes para o mesmo período da causa mais comum de óbitos no país, o infarto do miocárdio, que em 2018 matou, em média, 16.866 pessoas em 66 dias, segundo dados do Data SUS.
 
O último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado nesta quinta-feira, trouxe mais um recorde de mortos em 24 horas. Entre quarta-feira (20) e quinta foram registrados 1.188 óbitos, nove a mais do que no pico anterior, atingido dois dias antes, na terça-feira (19). A taxa de letaliadade da doença também aumentou e está em 9,5 a cada 100 mil habitantes.
 
Conforme o portal O Tempo, o alto número de mortes em decorrência da infecção pelo novo coronavírus também assusta quando comparado ao de outras doenças com índice elevado de fatalidade. Os dois tipos de câncer que mais matam no país, o de traqueia, brônquios e pulmões e o de mama, tiraram a vida de 46.483 pessoas em 2018, o que representa uma média de 8.405 mortes em 66 dias, também conforme os dados do Data SUS.
 
O presidente da Sociedade Mineira de Cardiologia, Henrique Patrus, ainda destaca o fator de risco que o coronavírus gera aos pacientes cardiopatas, tanto no aspecto interno quanto no de tratamento. “Além de termos as complicações que acometem pacientes com cardiopatias, há a tendência de abandono de tratamento ou falta de atendimento médico para essas pessoas, que muitas vezes, sabendo do risco que correm, deixam de ir a hospitais ou clínicas e até de tomar os medicamentos”, destaca.
 
Além das mortes, o número de casos confirmados da doença no país ultrapassou 310 mil nesta quinta-feira. O número é pouco menos da metade da expectativa de novos casos de câncer previstos para o ano todo, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), que estima que 685.960 brasileiros serão diagnosticados com a doença em 2020.
 
Para o diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica em Minas Gerais (SBOC-MG), Gustavo Baumgratz, os números de mortes pela Covid-19 evidenciam a gravidade da doença, mas ele pondera que existe uma diferença entre ela e o câncer. “A Covid-19 é uma epidemia, uma doença infecciosa, que se espalha rápido e não tem o fator crônico do câncer, mas o que esperamos de uma epidemia é que haja tratamento ou vacina, o que ainda não há para o novo coronavírus e torna o número de mortes tão considerável”, relata.
 
A Covid-19 ainda supera números anuais de casos de outras doenças infecciosas, como HIV/Aids e tuberculose. Em 2019, 73.864 novos casos de tuberculose foram registrados, enquanto, em 2018, 43,9 mil novas infecções por HIV entraram nos dados do Ministério da Saúde.
 
Falta de busca por atendimento
Além das mortes pela própria doença, a Covid-19 preocupa profissionais da saúde que lidam com pacientes com doenças crônicas, como cânceres e cardiopatias. Tanto Patrus quanto Baumgratz demonstram preocupação com o fato de que os pacientes tendem a deixar de buscar atendimento por medo do coronavírus.
 
“Fizemos um esforço no início para trazer de volta aqueles pacientes que já estavam em tratamento, que nos primeiros dias começaram a faltar aos atendimentos necessários, e com eles conseguimos êxito, mas nos preocupa o número de diagnósticos de câncer em estágios já avançados no pós-pandemia, já que as pessoas com sintomas iniciais estão evitando procurar auxílio médico”, afirma o oncologista.
 
Já para os pacientes cardiopatas, Patrus reitera a importância de continuar os tratamentos, tanto com medicamentos quanto as visitas rotineiras ao consultório médico. “A doença cardiovascular depende de controle clínico, e o que tem chamado atenção, embora não tenha dados estatísticos robustos, é que têm diminuído os atendimentos nos prontos-atendimentos e os pacientes acabam chegando com quadros bem mais graves e difíceis de tratar”, detalha o médico.
 
Segundo ele, a expectativa é que haja um aumento nos óbitos por doenças cardiovasculares em 2020. Até o fechamento desta reportagem, o Cardiômetro, contador de óbitos por doenças cardiovasculares – incluindo outras além do infarto – da Sociedade Brasileira de Cardiologia, já somava 154.115 mortes desde 1º de janeiro de 2020.

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