Paulo Bernardo, ex-ministro dos governos Lula e Dilma, foi preso na manhã desta quinta-feira (23) em uma operação da Polícia Federal realizada após desdobramento da Lava Jato.
Ele foi detido em Brasília, no apartamento funcional da mulher, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). A casa dos dois, em Curitiba, também é alvo de buscas.
A prisão do petista, que deve ser levado à sede da PF em São Paulo, é preventiva. Bernado tinha receio de ser preso há mais de um ano, quando o ex-deputado federal André Vargas era levado à prisão durante a 11ª fase da operação Lava Jato. Vargas era conhecido por aliados como o operador de Paulo Bernardo desde que o ex-ministro era deputado federal pelo Paraná.
O ex-ministro da Previdência e da Secretaria da Aviação Civil Carlos Gabas, amigo pessoal da presidente afastada Dilma Rousseff, e o jornalista Leonardo Attuch, dono do site "Brasil 247", são alvos de condução coercitiva. A residência de Gabas em Brasília ainda foi alvo de busca e apreensão.
O secretário municipal de Gestão de São Paulo, Valter Correia, também foi detido e sua casa é alvo de busca e apreensão. Ele foi assessor de Bernardo no Ministério do Planejamento.
Também são alvos de buscas a sede nacional do PT, em São Paulo, e a sede do partido em Brasília. Ao chegar à sede nacional, a polícia só encontrou porteiros, já que os funcionários chegam às 8h30.
Advogados já foram acionados pelo partido para tentar acompanhar a operação. O presidente nacional do partido, Rui Falcão, estava em Brasília e volta hoje para São Paulo.
Batizada de Custo Brasil, a operação mira em um esquema de pagamento de propina em contratos de prestação de serviços de informática do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, pasta que foi comandada por Paulo Bernardo.
Os investigadores afirmam ter elementos de que agentes públicos do ministério direcionaram licitações em favor de uma empresa de tecnologia e informática para gerir créditos consignados para servidores federais.
"Segundo apurou-se, 70% dos valores recebidos por essa empresa eram repassados a pessoas ligadas a funcionários públicos ou agentes públicos com influência no ministério por meio de outros contratos -fictícios ou simulados", diz a PF.
No total, as supostas fraudes investigadas teriam gerado subornos de aproximadamente R$ 100 milhões entre os anos de 2010 e 2015.
A investigação é fruto da delação premiada do ex-vereador de Americana (SP) Alexandre Romano, preso em agosto de 2015.
Segundo os policiais, ele foi um dos operadores do desvio de R$ 52 milhões em contratos do Ministério do Planejamento com empresas do Grupo Consist Software. Romano recebia recursos desviados da pasta desde 2010. A propina ia para empresas ligadas a ele.
Em delação, Delcídio disse que Bernardo privilegia Consist.
Lava Jato
Esta é a primeira operação da PF em São Paulo fruto de desdobramento da Lava Jato.
O inquérito policial foi instaurado em dezembro de 2015, após o Supremo Tribunal Federal determinar que a documentação apreendida na 18ª fase da operação Lava Jato, conhecida como Pixuleco 2, fosse encaminhada para investigação em São Paulo.
A operação está sendo chefiada pela Delecor de São Paulo (Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros).
Estão sendo cumpridos 11 mandados de prisão preventiva, 40 mandados de busca e apreensão e 14 mandados de condução coercitiva nos Estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Distrito Federal, todos expedidos, a pedido da PF, pela 6ª Vara Criminal Federal em São Paulo.
Os alvos em Brasília estão sendo levados para o hangar da PF e devem embarcar às 9h, sem previsão de chegada a São Paulo, já que o avião fará escalas.
Os investigados poderão responder pelos crimes de tráfico de influência, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa, com penas de 2 a 12 anos de prisão.
Denunciados em maio
O ex-ministro, a senadora e o empresário Ernesto Kugler Rodrigues, de Curitiba foram denunciados pela Procuradoria Geral da República em maio deste ano. Paulo Bernardo e Gleisi foram denunciados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O inquérito policial concluiu que os dois receberam R$ 1 milhão de propina de contratos firmados entre empreiteiras e a Petrobras. O valor teria sido utilizado para custear as despesas da eleição dela ao Senado em 2010.
A Procuradoria sustenta que o então ministro solicitou a quantia em favor da mulher diretamente ao engenheiro Paulo Roberto Costa, na época diretor de Abastecimento da Petrobras e um dos articuladores do esquema de corrupção na estatal indicado pelo PP. Preso em 2014, Costa fez delação premiada.
O doleiro Alberto Youssef, que também fez delação, operacionalizou o pagamento. Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o doleiro administrava o caixa de propinas do PP de onde saíram os valores em questão.
Fonte: O TEMPO