Café
11h50 09 Junho 2025

Colheita mecanizada de lavoura com carga baixa

Por Vinicius Lemos

Quando chegamos na safra e temos nas propriedades lavouras com pouca carga, a primeira idéia que se vem na cabeça é colher de forma manual ou de maquininhas. E as perguntas são: Quanto você vai gastar a mais colhendo lavouras velhas com pouca carga de forma manual do que de forma mecanizada? Você tem mão de obra o suficiente para colhê-las de forma manual? Voltar com escadas de madeira ou de ferro nessas áreas não quebrariam os ramos laterais da sua lavoura e reduziria o potencial produtivo dessas plantas no futuro? Será que com maquininhas estragará menos e ficará mais barato do que colher de colhedora num local onde você já passou a colhedora em safras anteriores?

Você tem cultivares de maturação em épocas diferentes na sua área?

Segue texto muito interessante para observamos pontos fundamentais para se colher bem de forma mecanizada uma lavoura com pouca carga e ao mesmo tempo não estraga-la!

São eles:

1) Momento adequado de entrada da máquina: se o fruto sai mais fácil da planta,  isso está ligado a força de desprendimento dele com o seu pedúnculo (cabinho verde) que liga o fruto ao ramo da planta. Faça com os dedos um formato de pinça, e puxe o fruto, caso ele esteje bem duro para sair tanto no terço superior, como no terço médio e inferior da planta, com certeza ainda não será o momento adequado para entrar com a máquina.

Às vezes vale a pena esperar tal lavoura ficar com a maioria dos frutos passa e cereja passando para passa e evitar ter frutos verde cana, para não se ter muitos “periguitos” (frutos remanescentes) na planta. E é nesse ponto que se faz uma passada apenas da colhedora.

Existem cultivares de maturações diferentes, desta forma, também é importante levar em consideração quais os materiais genéticos que você tem na sua propriedade para poder fazer o planejamento de colheita da sua safra e, assim atingir o momento o ponto de colheita adequado para entrar com a máquina. Nas fotos 1 e 2 abaixo eu mostro fotos da safra 2023 numa lavoura da cultivar MGS Paraíso 2 sendo colhida no dia 13/07/2023. E na foto 3 eu mostro a mesma lavoura com carga alta em 2024.

Fotos 1 e 2 – Colheita em lavoura de MGS Paraíso 2 com 45% de cereja e 55% passa para a colhedora não estragar as plantas que estão vestidas para a safra 2024. Fonte: Própria (2023). Local: Fazenda Palestina.

Foto 3 – Na foto acima (tirada dia 01/05/2024), pode-se observar a mesma lavoura com Carga Pendente Alta após a passada de colhedora em ano anterior bem regulada para a safra baixa. Fonte: Própria (2024). Local: Fazenda Palestina.
 

2) Fazer uma passada só da máquina. Bom, é inviável economicamente se fazer duas passadas da colhedora em uma lavoura com baixa carga. Primeiro devido ao alto custo por medida colhida que se terá e segundo, pois a probabilidade de estragar mais a estrutura vegetativa da planta são maiores, causando maior desfolha e, principalmente maior queda de gemas floríferas.

3) Deixar colar de varetas somente até a altura onde tem café na planta. Eu mesmo sempre faço isso e, inclusive publiquei na minha coluna de agronegócio do site TV KZ que, em lavoura nova é fundamental se medir a altura onde tem café na planta e tirar as varetas que não entrarão em contato com o frutos para serem derriçados.

Foto 4 - Observa-se uma lavoura de 3 anos e meio da cultivar Araponga com início de colheita no dia 10 de julho de 2021. Regulagem realizada na máquina Mini TDI automotriz Electron de acordo com a altura de café a ser derriçado na planta feita por Vinicius Lemos (2021).
 

4) Abrir o rolo agitador e colocar pontas de silicone na ponta das varetas. Tal técnica facilita colher aquele café mais junto ao tronco e, ao mesmo tempo irá agredir menos o tronco proporcionando menos brotos no mesmo no futuro.

Foto 5: Imagem de um operador colocando pontas de silicone na ponta das varetas com o auxílio de um batedor de vareta e uma marreta para evitar o descascamento do caule (ortotrópico) da planta de café, pode-se observar que foi tirado três colares de cada lado nos rolos agitadores para evitar picar a copa das plantas, pois, nesse local não tinha café. Observação: isso pode ser feito tanto em lavouras novas quanto acima de 8 anos. Fonte: Própria (2020).

Recordando

Como regular velocidade e vibração de uma colhedora:

Os fatores, velocidade e vibração podem ser entendidos através da Figura 1: a vibração dos cilindros agitadores deve variar de 750 ciclos por minuto até 950 ciclos por minuto. Muitas vezes se observa vibrações acima de 1000 ciclos por minuto, que não é recomendado podendo trazer danos às plantas e também para a máquina. A vibração pode ser medida através de um tacômetro ou por meio de um medidor digital de dentro da cabine da colhedora ou no painel de controle, caso for uma colhedora tracionada. Quanto mais próximo de 950 ciclos por minuto, maior a vibração aplicada na planta, quanto mais próximo de 750, menor a vibração aplicada. É dever do operador ou do gestor de colheita avaliar o estado da planta quanto à maturação dos frutos em relação ao seu principal objetivo, colher seletivamente o café, ou fazer uma colheita total. 

Figura 1: Diferentes vibrações e velocidades. (Ferreira Junior e Silva, 2016, revista Cultivar Máquinas).
 
Quanto à velocidade, pode variar de 900 a 1600 metros por hora. Quanto mais lento a colhedora passar pelo cafeeiro, maior a carga de vibração aplicada, ou seja, maior o tempo de exposição da máquina vibrando na planta. Quanto mais rápida a colhedora, menor o tempo de exposição desta na planta, então, menor a carga de vibração aplicada. Frutos verdes necessitam de maior carga de vibração, consequentemente, menor deve ser a velocidade de operação para derriçar esses frutos. Frutos mais maduros se desprendem dos ramos com mais facilidade, não sendo necessário aplicar alta carga de vibração na planta. Nada impede de se regular uma colhedora com 1400 m/h de velocidade e 950 ciclos/min de vibração ou menor velocidade e maior vibração. A atenção deve estar em conciliar essas informações com o estado da planta. Quanto menor a velocidade de operação e maior a vibração, maior as chances de derriçar frutos verdes, porém, maior a tendência de desfolhar mais a planta e maior o risco de quebra de ramos. Sabe-se que a desfolha não depende somente da regulagem, mas da adequada operação e também do estado da planta.
 
Uma das formas de regulagem é através do índice i, na qual a vibração deve ser dividida pela velocidade (metodologia proposta pelo prof. Dr. Fábio Moreira da Silva – UFLA). Se a opção for por uma colheita seletiva, as regulagens da colhedora devem obedecer tal situação que o índice i deve estar entre 0,5 e 0,7. Se a opção for por uma colheita plena, o índice i deve estar entre 0,8 e 1,0. Caso o valor estiver fora dessas opções, a orientação é para mudar a vibração ou a velocidade até atingir a faixa que corresponde ao tipo de colheita pretendida. Veja Figura 2.
 

Figura 2: Como calcular o melhor índice de vibração da colhedora de café. (Ferreira Junior e Silva, 2016, revista Cultivar Máquinas).
 

Essas informações têm orientado o produtor na regulagem desses fatores. Porém, mais recentemente, pesquisas têm mostrado que regular a colhedora baseando-se somente na velocidade de operação e vibração dos cilindros agitadores, não é suficiente. É necessário conciliar também o freio dos cilindros de varetas (agressão), considerado importantíssimo na eficiência de derriça, pois está relacionado às amplitudes de vibração das varetas.

5) Velocidade de deslocamento. Como o André Reis e o Guy mesmo disseram em um vídeo sobre esse assunto em 2022 (https://www.youtube.com/watch?v=qnOjxEC2FFY)  “é fundamental evitar baixas velocidades em lavouras com pouca carga”. E a explicação para isso é bem simples: quanto mais devagar se anda, maior será o número de impactos de varetas da colhedora na planta de café! E como a planta tem pouca carga, por quê deixar a colhedora castigar tal planta? 

Outro ponto fundamental para pensarmos é o seguinte: se dentro de uma mesma rua tem locais que tem mais café e outros com menos café, qual o problema de mudar a velocidade da colhedora ao longo da rua? E a resposta é: Nenhum problema!!! Inclusive é necessário, pois, para se ter uma derriça eficiente e, ao mesmo tempo com o mínimo de agressão na planta de acordo com a sua pouca carga pendente!

6) A vibração das varetas, ou também chamada de número de ciclos por minuto é fundamental estar associada a velocidade, pois, uma velocidade maior diminui o número de impactos de varetas por planta, dessa forma, é fundamental se aumentar a vibração das varetas da colhedora, para se ter ao mesmo tempo menor desfolha e também uma boa derriça da carga pendente baixa que se tem na planta.

7) Força do freio dos rolos agitadores. Ideal de 8 a 10 kg. Costumo dizer que a regulagem dos freios de uma colhedora deve ser o mesmo capricho do que um motorista de um Carro dos sonhos tem nas quatro rodas dele para poder andar numa rodovia boa, plana e reta. No carro, para se ter uma boa performance do mesmo, tem que se fazer balanceamento e o alinhamento das quatros rodas, pois, caso contrário elas irão vibrar muito e sair do ângulo correto da sua rota, deixando de andar em sintonia. Da mesma forma é a importância de fazer a regulagem do freio dos rolos agitadores da colhedora. Se o freio estiver exageradamente alto, os rolos agitadores não irão se movimentar muito, desta forma estragarão a planta quebrando galhos produtivos na base do tronco, ou seja, causando seríssimas perdas, pois, é sabido que não se brota novos ramos produtivos laterais (ramos plagiotrópicos) a partir do tronco (ramo ortotrópico).

Quanto mais solto o freio, mais frouxas as varetas estarão batendo na planta, fazendo uma projeção de alcance maior, e, consequentemente quebra de ramos produtivos caso a colhedora esteje numa velocidade muito lenta. Ou seja, tudo tem que estar em sintonia. 

Recordando

Regulagem do freio dos cilindros:
A regulagem do freio é fundamental, e, existem dois tipos de freios em colhedoras de café que foi muito bem frisado por Ferreira Junior e Silva (2016) em um texto deles falando sobre “Regulagens adequadas em colhedoras de café” na revista Cultivar Máquinas:

Freio acionado por uma cinta

Este freio é utilizado pela maioria dos fabricantes de colhedoras. É um sistema que utiliza uma cinta envolta dos cilindros agitadores, possui molas nas pontas e são fixadas por meio de parafusos com porca e contra porca (Ferreira Junior e Silva, 2016). Necessita de ferramentas para sua regulagem e de uma balança portátil para aferir o torque do cilindro. É necessário aferir ambos os cilindros, conforme metodologia proposta por Sales (2011), sendo de 8 a 10 Kgf. Nestas regulagens, Ferreira Júnior (2014) através de instrumentação, encontrou as maiores amplitudes de vibração das varetas. Atenção deve ser tomada para o local correto de se posicionar a balança de aferição desse torque, que deve estar numa vareta da terceira flange inferior e também no meio do cilindro e a balança fixada na ponta da vareta, a 45,0 cm do ponto de fixação do cilindro (fotos 6 e 7). Esse é um detalhe importante e que muitas vezes é deixado de lado, mascarando assim o valor correto do torque. É um sistema mecânico, requer certo tempo para acertar a regulagem e sua inspeção deve ser diária durante a colheita, uma vez que o sistema fica susceptível às impurezas do ambiente, orvalho e até mesmo à própria elasticidade do material devido ao aquecimento ocasionado pelo atrito constante, podendo assim perder a regulagem inicial desejada (Ferreira Junior e Silva, 2016).

Tal peso do freio é mensurado com uma pequena balança digital onde se puxa uma vareta a 45 cm do centro do rolo agitador, devendo ser feito tanto no 3º colar de baixo para cima como no meio vide fotos 6 e 7 abaixo:

Foto 6: Gerente agrícola da Fazenda Cambuí município de Córrego D’anta fazendo a verificação dos freios acionados por cinta do rolo agitador numa colhedora de montanha da marca Avery para colher lavoura adulta. Fonte: Própria (2021).
 
Foto 7: Pode-se observar que além da terceira flange (colar), ele fez medições também nas varetas do meio do cilindro (rolo agitador) para colher lavoura adulta. Fonte: Própria (2021).
 

Freio hidráulico

O sistema de freio hidráulico dos agitadores possui uma forma de regulagem mais simples. Os cilindros de varetas além de vibrarem, giram acionados por motor hidráulico, aumentando ou diminuindo a rotação dos cilindros consegue-se aumentar ou diminuir a agressão. A recomendação é para contar o número de voltas dos cilindros no intervalo de um minuto, devendo estar entre 1,5 a 2,5 voltas por minuto. É um sistema simples, fácil e rápido de aferir, obtendo uma agressão de mesma proporção para os dois cilindros agitadores, com uma única regulagem (Ferreira Junior e Silva, 2016). 

Os valores determinados de torque (8 Kgf com 2,5 voltas por minuto a 10 Kgf com 1,5 voltas por minuto) são recomendações que proporcionam maior eficiência de derriça e menos danos ao cafeeiro. Outras regulagens na colhedora devem ser verificadas como velocidade dos transportadores recolhedores, sistema de limpeza e altura da esteira da colhedora, pois estão diretamente relacionados com a perda de frutos no chão (Ferreira Junior e Silva, 2016).

Na colheita de lavouras novas, testamos diferentes pesos do freio e, vimos que pode variar de 6 a 10 kg de força (peso) na regulagem. Tal ajuste é utilizado para tirar mais ou menos café da planta, quando se tem em torno de 8 a 10 kg de peso é possível tirar mais café da planta. Já com valores próximos a 6 kgf de peso retira-se menos café, entretanto, estraga menos a planta.

Quando o freio está muito apertado acima de 12 Kgf (em torno de meia volta do cilindro em 1 minuto), ele pode inclusive estragar a planta. Entretanto, quando o peso do freio está muito solto, ele tira bem menos café da planta. 

Em lavoura nova (com idade de 3,5 anos), quando pretende fazer duas passadas rápidas (com velocidade acima de 1000 m/hora), pode-se colocar o freio em torno de 6 a 10 kg e índice I de 0,5 a 0,7.

Entretanto, quando for fazer uma passada apenas, deve-se trabalhar com o café bem maduro e em uma velocidade em torno de 700 a 800 metros/horas, colocando neste caso menor força no freio, pois, o número de vezes que as varetas baterão na planta será maior, evitando assim menos força no impacto da vareta na planta e, se possível regular a vibração para que o índice I fique em torno de 0,8 a 1,0.


Conclusão:

Resumindo, tenha o capricho de regular os dois freios da colhedora que irá derriçar seu café da mesma forma que alinha e balanceia o seu carro para viajar, pois, com certeza os possíveis problemas serão prevenidos!

Espero que gostem da matéria, pois, ajudará em muito os produtores e prestadores de serviço fazerem um serviço com capricho e de qualidade!!!

Lembre-se: A safra do ano seguinte não pode ser prejudicada por uma falta de cuidado e capricho na colheita dessa safra!

 
Colunista
Vinicius Lemos

Vinícius Lemos é engenheiro agrônomo consultor técnico do programa ATeG Café + Forte SENAR Minas, e da Lemos Consultoria Agrícola.

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