Café
22h40 10 Junho 2022

''Colheita Mecanizada de Montanha e Micro-terraceamento da Lavoura de Café'', leia a coluna de Vinícius Lemos

Por Vinícius Lemos

Muitos me perguntam sobre como mecanizar lavoura de montanha e se é possível passar a colhedora em áreas montanhosas.

E a resposta é sim em áreas com a até 40% de declividade! É possível, porém temos que observar alguns pontos de fundamental importância, e são eles: estudo da topografia, máquina com levante hidráulico maior, máquina mais estreita e com bica fixa, regulagem adequada da máquina (velocidade, vibração, regulagem do freio dos cilindros) e mapa de colheita. Tais itens são descritos a seguir.

Topografia para a colhedora passar está adequada?

A topografia em si é muito importante para a colheita mecanizada, e, caso a declividade seja maior que 40%, será possível apenas mecanizar durante o ano (mecanização parcial), mas, não colher. Mas, caso a declividade for menor que 40%, será possível mecanizar a colheita também.

Desta forma, é importante se fazer um estudo da topografia para ver se é possível fazer linhas retas em tudo, podendo inclusive descer morro abaixo, ao invés de banquetas para se passar a colhedora da forma mais fácil, como pode ser visto na foto 1 abaixo.

Foto 1 - Pode-se observar que em tal área, para se ter o máximo de comprimento de ruas e não ter que fazer banqueta no final da linha, o produtor optou pelo plantio reto. Fonte: Própria (2022).


Caso o plantio reto não seja o adequado para a área, será necessário fazer as banquetas (microterraços) para se conseguir entrar com a colhedora. Porém, recomendo primeiro plantar a lavoura e fazer as banquetas em duas etapas. Sendo a primeira, com a lavoura com 1 ano de idade de forma leve só para mecanizar alguns tratos culturais como entrada de esparramador de insumos (foto 2). E a segunda etapa ou etapa única a partir dos 3,5 anos da lavoura (fotos 3 e 4).

Foto 2 – Início de realização de banquetas para facilitar o manejo da lavoura. Fonte: José Braúlio de Araújo, Santa Rosa da Serra (2022).


Foto 3 – Construção de banqueta com lâmina traseira usando trator de 50 cv. Fonte: José Braz Matiello, Fundação Procafé (2012).


Foto 4 – Construção de banqueta com bob cat. Fonte: Guy Carvalho,  Papo de Cafeicultor (2019).


Os viradores devem ter pelo menos 6 a 7 metros de largura e estarem o mais nivelado possível para ter segurança na manobra. Quando as ruas são muito longas, é importante também se fazer carreadores pendentes (de descarga) para descarregar o café da caixa da máquina (fotos 5 e 6) e os mesmos não podem ter banquetas para a carreta ter fácil acesso.

Foto 5 – Caixas armazenadoras de café levantadas. Fonte: Carlos da Avery (2020).


É importante também se tem um planejamento de onde são os gargalhos do terreno, se tem galhos de árvores ou se é possível utilizar a própria estrada vicinal para virar a máquina e também descarregar o café de forma mais nivelada. Recomendo saídas da máquina em carreadores nivelados para virar de 50 em 50 metros.

Foto 6 – Pode-se observar a colhedora erguendo as caixas para descarregar no carreador de descarga (A) e já efetuando o descarregamento (B). Tal carreador pode ter largura de 3 metros, pois, precisa só do trator com a carreta chegar para descarregar o café da colhedora, não precisando assim fazer manobra. Fonte: Cláudio Márcio da Costa (2021).


Qual a altura de levante hidráulico adequado para uma colhedora de montanha?

Pelo menos 1,20 m, pois, com isso, caso a declividade seje maior, primeiro se faz o microterraceamento, e, se entra com a máquina com uma das rodas no degrau debaixo do terraço como podem ser observados nas fotos 7, 8 e 9 a seguir.

Foto 7 – Colhedora de terraço colhendo lavoura na banqueta vista traseira. Fonte: Guy Carvalho,  Papo de Cafeicultor (2019).


Foto 8 – Colhedora de terraço colhendo lavoura na banqueta vista frontal. Fonte: Guy Carvalho,  Papo de Cafeicultor (2019).


Foto 9 – Colhedora de terraço colhendo lavoura na banqueta na fazenda Cambuí. Fonte: Wanderson Rangel, (2021).


Medidas Importantes:

Altura máxima do terraço: 1,1 m
Largura máxima da planta de café a beira do terraço: 50 cm.


Máquina mais estreita e com bica fixa:

A máquina mais estreita é importante para se entrar em lavouras mais adensadas, pois, a maioria de lavouras de montanha tem o espaçamento reduzido.
A questão da bica fixa na frente da máquina é importante para os casos quando as ruas são muito longas e as caixas não comportam todo o café da rua. Além, disso quando a declividade não permitir que o operador jogue a bica para esquerda (onde é mais visível) em alguns modelos e nem para a direita em outros modelos devido a não se ter uma boa visualização e alcance da carreta na rua de baixo.


Velocidade e Vibração:

Os fatores, velocidade e vibração podem ser entendidos através da figura 1: a vibração dos cilindros agitadores deve variar de 600 ciclos por minuto até 950 ciclos por minuto. Muitas vezes se observa vibrações acima de 1000 ciclos por minuto, que não é recomendado podendo trazer danos às plantas e também para a máquina. 

A vibração pode ser medida através de um tacômetro ou por meio de um medidor digital, de dentro da cabine da colhedora ou no painel de controle, caso for uma colhedora tracionada. Quanto mais próximo de 950 ciclos por minuto, maior a vibração aplicada na planta, quanto mais próximo de 600, menor a vibração aplicada. É dever do operador ou do gestor de colheita avaliar o estado da planta quanto à maturação dos frutos em relação ao seu principal objetivo, colher seletivamente o café, ou fazer uma colheita total. 

Quando for fazer colheita seletiva, recomendo também tirar alguns colares de varetas no terço inferior da máquina para não colher muito café verde.

Figura 1: Diferentes vibrações e velocidades para colheita mecanizada em montanha. (Ferreira Junior e Silva, 2016, revista Cultivar Máquinas, Adaptado por Lemos 2022).


Quanto à velocidade, em lavoura de montanha, pode variar de 500 a 1000 metros por hora. Na prática está se usando mais de 600 a 800 metros por hora. Quanto mais lento a colhedora passar pelo cafeeiro, maior a carga de vibração aplicada, ou seja, maior o tempo de exposição da máquina vibrando na planta. Quanto mais rápida a colhedora, menor o tempo de exposição desta na planta, então, menor a carga de vibração aplicada. 

Frutos verdes necessitam de maior carga de vibração, consequentemente, menor deve ser a velocidade de operação para derriçar esses frutos. Frutos mais maduros se desprendem dos ramos com mais facilidade, não sendo necessário aplicar alta carga de vibração na planta. 

Nada impede de se regular uma colhedora de Montanha com 800 m/h de velocidade e 800 ciclos/min de vibração ou menor velocidade e maior vibração. A atenção deve estar em conciliar essas informações com o estado da planta e se o objetivo é passar 1 só vez ou fazer duas passadas. Quanto menor a velocidade de operação e maior a vibração, maior as chances de derriçar frutos verdes, porém, maior a tendência de desfolhar mais a planta e maior o risco de quebra de ramos. Sabe-se que a desfolha não depende somente da regulagem, mas da adequada operação e também do estado da planta.

Uma das formas de regulagem é através do índice I, na qual a vibração deve ser dividida pela velocidade (metodologia proposta pelo prof. Dr. Fábio Moreira da Silva – UFLA). Se a opção for por uma colheita seletiva, as regulagens da colhedora devem obedecer tal situação que o índice I deve estar entre 0,5 e 0,7. Se a opção for por uma colheita plena, o índice deve estar entre 0,8 e 1,0. Caso o valor estiver fora dessas opções, a orientação é para mudar a vibração ou a velocidade até atingir a faixa que corresponde ao tipo de colheita pretendida. Veja Figura 2. 

Figura 2: Como calcular o melhor índice de vibração da colhedora de café. (Ferreira Junior e Silva, 2016, revista Cultivar Máquinas, adaptado por Lemos, 2022).


Essas informações têm orientado o produtor na regulagem desses fatores. Porém, mais recentemente, pesquisas têm mostrado que regular a colhedora baseando-se somente na velocidade de operação e vibração dos cilindros agitadores, não é suficiente. É necessário conciliar também o freio dos cilindros de varetas (agressão), considerado importantíssimo na eficiência de derriça, pois está relacionado às amplitudes de vibração das varetas.

Regulagem do freio dos cilindros:

A regulagem do freio é fundamental, e, existem dois tipos de freios em colhedoras de café que foi muito bem frisado por Ferreira Junior e Silva (2016) em um texto deles falando sobre “Regulagens adequadas em colhedoras de café” na revista Cultivar Máquinas:

Freio acionado por uma cinta

Este freio é utilizado pela maioria dos fabricantes de colhedoras. É um sistema que utiliza uma cinta envolta dos cilindros agitadores, possui molas nas pontas e são fixadas por meio de parafusos com porca e contra porca (Ferreira Junior e Silva, 2016). Necessita de ferramentas para sua regulagem e de uma balança portátil para aferir o torque do cilindro. É necessário aferir ambos os cilindros, conforme metodologia proposta por Sales (2011), sendo de 8 a 10 Kgf. Nestas regulagens, Ferreira Júnior (2014) através de instrumentação, encontrou as maiores amplitudes de vibração das varetas. Atenção deve ser tomada para o local correto de se posicionar a balança de aferição desse torque, que deve estar numa vareta da terceira flange inferior do cilindro e a balança fixada na ponta da vareta, a 45 cm do ponto de fixação do cilindro. Esse é um detalhe importante e que muitas vezes é deixado de lado, mascarando assim o valor correto do torque. É um sistema mecânico, requer certo tempo para acertar a regulagem e sua inspeção deve ser diária durante a colheita, uma vez que o sistema fica susceptível às impurezas do ambiente, orvalho e até mesmo à própria elasticidade do material devido ao aquecimento ocasionado pelo atrito constante, podendo assim perder a regulagem inicial desejada (Ferreira Junior e Silva, 2016).

Freio hidráulico

O sistema de freio hidráulico dos agitadores possui uma forma de regulagem mais simples. Os cilindros de varetas além de vibrarem, giram acionados por motor hidráulico, aumentando ou diminuindo a rotação dos cilindros consegue-se diminuir ou aumentar a agressão, respectivamente. A recomendação é para contar o número de voltas dos cilindros no intervalo de um minuto, devendo estar entre 1,5 a 2,5 voltas por minuto. É um sistema simples, fácil e rápido de aferir, obtendo uma agressão de mesma proporção para os dois cilindros agitadores, com uma única regulagem (Ferreira Junior e Silva, 2016). 

Os valores determinados de torque (8 a 10 Kg ou 2,5 a 1,5 voltas por minuto respectivamente) são recomendações que proporcionam maior eficiência de derriça e menos danos ao cafeeiro. Outras regulagens na colhedora devem ser verificadas como velocidade dos transportadores recolhedores, sistema de limpeza e altura da colhedora, pois estão diretamente relacionados com a perda de frutos no chão (Ferreira Junior e Silva, 2016).

Na colheita de lavouras de Montanha, testamos diferentes pesos do freio e, vimos que pode variar de 6 a 10 kg de força (peso) na regulagem. Tal ajuste é utilizado para tirar mais ou menos café da planta, quando se tem em torno de 8 a 10 kg de peso é possível tirar mais café da planta. Já com valores próximos a 6 kg de peso retira-se menos café, entretanto, estraga menos a planta.

Tal peso do freio é mensurado com uma pequena balança digital onde se puxa uma vareta a 45 cm do centro do rolo agitador, devendo ser feito tanto no 3º colar de baixo para cima como no meio vide fotos 10 e 11 abaixo:

Foto 10 - Gerente agrícola da Fazenda Cambuí município de Córrego D’anta fazendo a verificação dos freios do rolo agitador numa colhedora de montanha da marca Avery para colher lavoura adulta. Fonte: Própria (2021).


Foto 11 - Pode-se observar que além da terceira flange (colar), ele fez medições também nas varetas do meio do cilindro (rolo agitador) para colher lavoura adulta. Fonte: Própria (2021).


Quando o freio está muito apertado acima de 12 kg, ele pode inclusive estragar a planta. Entretanto, quando o peso do freio está muito solto, ele tira bem menos café da planta. 

Em lavoura de Montanha, quando pretende fazer duas passadas rápidas (com velocidade acima de 800 m/hora), pode-se colocar o freio em torno de 6 a 10 kg e índice I de 0,5 a 0,7.
Entretanto, quando for fazer uma passada apenas, deve-se trabalhar com uma velocidade em torno de 600 metros/hora, colocando neste caso menor força no freio, pois, o número de vezes que as varetas baterão na planta será maior, evitando assim menos força no impacto da vareta na planta e, se possível regular a vibração para que o índice I fique em torno de 0,8 a 1,0.

Mapa de Colheita:

É importante também se fazer um mapa de colheita das lavouras, principalmente quando são plantas jovens, pois, se não a primeira passada da colhedora entra em um sentido na rua promove um “penteamento” para um lado, e, na segunda passada se entrar no sentido oposto, pode promover o “penteamento” contrário dos ramos produtivos, correndo o risco de desloca-los e até quebra-los (Foto 12). Tal mapa de colheita pode ser utilizado também de uma safra para outra, isso se chama capricho e aumenta consideravelmente a vida útil do pé de café.

Em talhões com terraços acima de 70 cm de altura não se tem esse problema de penteamento, pois, o trator que puxa a máquina só passa do lado de cima do terraço em um sentido só.

Foto 10 - Foto de um caule de uma planta de café onde a colhedora foi mal regulada e, provavelmente se passou a colhedora em diferentes sentidos na mesma rua ao longo de anos. Observa-se que a planta sobra com pouquíssimos ramos produtivos (plagiotrópicos). Fonte: Luiz de Gonzaga Ferreira Júnior (2016).


Conclusões:

Sim! É possível fazer colheita mecanizada em lavoura de montanha, porém, é importante observar com atenção os pontos mais fundamentais, como: topografia, máquina com levante hidráulico maior, máquina mais estreita e com bica fixa, regulagem adequada da máquina (velocidade, vibração, regulagem do freio dos cilindros) e fazer um mapa de colheita. Assim pode-se conseguir êxito na colheita, com bons lucros e baixo custo, além de preservar o seu patrimônio, que é sua lavoura de café.

Escrito pelo colunista de agronegócio da TV KZ: 
Engenheiro agrônomo, Dr. Vinícius Teixeira Lemos, consultor técnico do programa ATeG Café + Forte SENAR Minas e da LEMOS CONSULTORIA AGRÍCOLA, professor titular do curso de Agronomia na Una Bom Despacho e cafeicultor em Campos Altos – MG.
Contato: 35-99750-4160 (WhatsApp) 

Colunista
Vinícius Lemos

Engenheiro agrônomo, consultor técnico do programa ATeG Café + Forte SENAR Minas e da LEMOS CONSULTORIA AGRÍCOLA, professor titular do curso de Agronomia na Una Bom Despacho e cafeicultor em Campos Altos – MG.

Contato: 35-99750-4160 (WhatsApp) 

 

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