O Ibovespa conseguiu emendar um segundo dia positivo, de volta aos 133 mil pontos no fechamento, tendo testado a casa de 134 mil na máxima do dia. Nesta terça-feira, oscilou dos 132.681,92 aos 134.232,83 pontos, saindo de abertura aos 132.971,38 pontos. Ao fim, marcava 133.151,30 pontos, em leve alta de 0,14%, com giro a R$ 18,9 bilhões. Na semana, o índice da B3 avança 0,54% e, no mês, em três sessões, agrega apenas 0,06% de alta. No ano, sobe 10,70%.
O desempenho positivo desta terça-feira tinha a contribuição de Vale que, contudo, virou no ajuste de fechamento, na mínima do dia (ON -0,13%), enfraquecendo o Ibovespa. Petrobras (ON +0,80%, PN +0,47%), por sua vez, ganhou força no encerramento - na contramão do Brent e do WTI, em baixa pela quarta sessão consecutiva. O dia também foi favorável a alguns grandes bancos, com destaque para o principal papel do setor, Itaú PN, que subiu 1,10%. Na ponta ganhadora do Ibovespa, Brava (+5,74%), Hapvida (+4,65%) e Petz (+3,72%). No lado oposto, CSN (-2,82%), Klabin (-2,56%) e Assaí (-2,54%).
Ainda que possivelmente temporária, a ausência de retaliações adicionais do governo dos EUA em resposta à decretação de prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro foi recebida praticamente como um "não evento" pelo mercado.
"A decisão de ontem não muda muita coisa, na medida em que os dois lados continuam a 'brincar' de quem estica mais a corda: a não ser que houvesse um desdobramento imediato de Trump com relação ao tarifaço, tudo mais constante, como foi o caso, a notícia não fez preço", como já era esperado, diz Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos.
Para além da falta de reação inicial, a prisão não deixa de ser um novo ponto de atenção política para o mercado, avalia Bruna Centeno, economista e sócia da Blue3 Investimentos. As eventuais consequências para a precificação dos ativos têm correlação com a hipótese de que a detenção domiciliar de Bolsonaro possa resultar em ofensiva adicional do governo Trump, após a relativa distensão observada na semana passada com a garantia de uma extensa lista de isenções ao tarifaço e a prorrogação do prazo de efetivação para esta quarta-feira, 6 de agosto.
Mas, acrescenta Bruna, o cenário de fluxo externo para a Bolsa brasileira continua a ser favorecido pelo carry trade, tendo em vista o elevado nível da Selic, a 15% ao ano - o que, para o estrangeiro, com força de fluxo para determinar o sentido do Ibovespa, acaba se impondo às atribulações políticas domésticas, especialmente se não resultarem em aprofundamento da tensão comercial com os Estados Unidos.
"A sessão acabou sendo tranquila, mas ainda há receio quanto à tensão Brasil-Estados Unidos - mesmo que não tenha feito preço hoje, com a Bolsa em leve alta depois da prisão de Bolsonaro", diz Felipe Papini, sócio da One Investimentos, destacando para depois do fechamento desta terça divulgação de resultados corporativos como os de Itaú e Prio, referentes ao segundo trimestre.
"A prisão de Bolsonaro era algo que se esperava na conclusão do processo, mas acabou vindo antes. Não trouxe efeito imediato, direto. A saga comercial entre Brasil e Estados Unidos já tinha um componente político, e com o recuo da Casa Branca na semana passada, o impacto do tarifaço já estava diluído. Mas há chance, ainda, de uma nova escalada tendo em vista também questões em paralelo, como a das big techs, que é um componente dessa disputa", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus.
"É preciso compreender, ainda, como a Casa Branca poderá, eventualmente, vir a reagir", acrescenta.
No prazo mais longo, ainda que as opções permaneçam totalmente em aberto e com muita volatilidade de permeio até a eleição de 2026, um desdobramento potencialmente positivo seria o alijamento de nomes mais identificados ao bolsonarismo extremado - com elevada rejeição - e a construção de uma alternativa à direita, mais ao centro, para a provável disputa contra o presidente Lula no ano que vem, diz Spiess.
"Fica claro que a sentença dele Bolsonaro já está decretada. Só uma questão de efetivação. De certa forma, isso vai acelerar o processo de indicação de um nome para a direita", diz Alison Correia, analista e cofundador da Dom Investimentos.