Com dados melhores do que o previsto de inflação e sem novidades na comunicação mais firme do Banco Central (BC) sobre o cenário de Selic elevada por um período maior de tempo, os juros futuros encerraram o pregão desta quinta-feira em queda, movimento mais evidente a partir dos vencimentos intermediários. A principal influência de baixa na curva foi o IPCA-15, divulgado hoje pelo IBGE, que mostrou descompressão mais forte que o esperado.
A prévia da inflação oficial desacelerou de 0,36% em maio para 0,26% em junho, abaixo da mediana de 0,31% prevista por 30 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast. A média dos núcleos do indicador também perdeu fôlego na passagem mensal, de 0,40% para 0,31%, ao mesmo tempo em que outros dados sinalizaram uma dinâmica inflacionária mais benigna: o índice de difusão, que mede o porcentual de componentes com alta no mês, ficou em 55,77% na medição atual, ante 66,49% na anterior. Já a inflação de serviços subjacentes, que reúne preços mais sensíveis à política monetária, recuou de 0,45% para 0,42% na passagem mensal, abaixo da mediana de 0,46% prevista pelos analistas ouvidos pela Broadcast.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 terminou a sessão em 14,930%, de 14,945% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027, em 14,185%, de 14,233% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2029 caiu de 13,406% no ajuste da véspera para 13,300% no fechamento de hoje.
Segundo Marcelo Bacelar, gestor de portfólio da Azimut Brasil Wealth Management, os dados conhecidos hoje corroboraram uma tendência mais moderada de inflação notada desde maio. O IPCA-15 do mês atual foi a terceira leitura consecutiva de resultado abaixo do esperado pelo mercado, destacou. A Azimut previa alta de 0,31% para o índice. "São números bons de inflação que vêm na contramão do nível de atividade mais forte no primeiro trimestre e ajudam as expectativas de curto prazo a serem revisadas para baixo", diz o gestor.
Bacelar observa que o consenso do boletim Focus para a alta do IPCA este ano estava em 5,5% há um mês, caiu a 5,24% na última semana e, após o IPCA-15 de junho, tende a diminuir ainda mais. Isso ajuda o mercado a trabalhar com expectativas inflacionárias menores mais para frente, avalia ele, o que explica o fechamento observado hoje nos juros futuros, afirma o gestor. Os dados mais fracos de inflação se somam à comunicação mais dura da autoridade monetária, acrescentou.
Mais cedo, o BC divulgou seu Relatório de Política Monetária (RPM), que endossou o recado já dado na última ata e comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) de que a Selic vai ficar no atual patamar de 15% por um horizonte prolongado. Os juros futuros recuaram em toda a curva, especialmente nos vértices longos na sessão de hoje, observa Alexandro Nishimura, economista e diretor da assessoria de investimento Nomos, com o mercado ponderando entre o tom rígido do último comunicado do Copom e a chance de um alívio monetário à frente, caso a inflação siga perdendo fôlego.
Na gestão da dívida, o Tesouro realizou hoje o último leilão do segundo trimestre, vendendo integralmente o lotes de 28 milhões de LTN e 112,5 mil das 300 mil NTN-F ofertadas. Mesmo com risco 11% (DV01) maior para o mercado ante o leilão da semana passada, a operação não teve interferência no comportamento da curva do DI. Na semana, o Tesouro emitiu R$ 39,1 bilhões - 1,32% abaixo da semana anterior, mas 5,56% acima da média do ano, informa a Warren Investimentos. "Nesse ritmo, o estoque da dívida deve encerrar 2025 em R$ 8,8 trilhões, com um colchão de liquidez capaz de cobrir 12 meses de vencimentos", afirma Luis Felipe Vital, chefe da área de estratégia para dívida pública da corretora.