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07h40 13 Junho 2025
Atualizada em 13/06/2025 às 07h40

Drone operado pelo tráfico interrompe pousos e decolagens em Cumbica

Por José Maria Tomazela Fonte: Estadão Conteúdo

Um drone controlado por traficantes paralisou por cerca de uma hora as operações do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, Guarulhos, na noite desta quarta-feira, 11, segundo a Polícia Federal (PF). A PF foi acionada após a detecção de acesso indevido de indivíduos à área restrita do terminal. Durante a ação, foram apreendidas três caixas, com 160 quilos de cocaína.

A reportagem apurou que os suspeitos pretendiam embarcar a droga clandestinamente em aviões com destino ao exterior. Um agente da segurança do aeroporto viu quando um carro parou e seus ocupantes jogaram três pacotes para três pessoas que se encontravam na parte interna do aeroporto. A PF foi acionada e os homens fugiram, deixando a droga para trás.

O drone foi usado para monitorar a ação policial. "As investigações continuam para apurar as circunstâncias do crime e identificar todos os envolvidos", diz a Polícia Federal.

Expor aeronaves e embarcações a risco é crime previsto no artigo 261 do Código Penal brasileiro. A previsão penal é de reclusão de 2 a 5 anos, devendo ser aumentada quando causa queda ou destruição.

Transtornos

Em nota, a Gol confirmou que dois voos precisaram ser cancelados e outros dez foram alternados para aeroportos próximos. Por sua vez, a Latam Airlines Brasil informa que mais de 20 voos com origem ou destino em Guarulhos foram afetados.

"Grande parte das aeronaves alternadas seguiu novamente para Guarulhos após reabastecimento e normalização das operações no aeroporto. Todos os clientes receberam as facilidades previstas na resolução 400 da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), conforme suas necessidades", disse a Gol. A Latam foi na mesma linha, mas ressaltou ainda que "repudia e lamenta a situação, totalmente alheia à sua responsabilidade". "E reforça que a segurança de seus passageiros e funcionários é prioridade em todas as suas operações", disse.

Segundo a CNN, um vídeo do canal Aviação Guarulhos JPD mostrou o momento em que um piloto avisou a torre de controle sobre o drone. "Bem na curta final (na área de aproximação), tem um cara com um drone. Avistei e passou à direita da nossa asa. Achei que ia ter que arremeter." Segundo a GRU, concessionária de Cumbica, o "uso de drones nas imediações do sítio aeroportuário coloca em risco a aviação e a integridade das pessoas".

Regulamentação

Para o especialista em aviação Maurício Pontes, CEO da C5I, empresa de consultoria e gestão de riscos, o drone representa uma ameaça à aviação quando invade o espaço aeroportuário. "Anteriormente, o problema nos aeroportos eram os pássaros, os lasers e os balões não tripulados, agora são os drones. O drone configura um risco potencial de acidentes com aviões, tanto que existe uma norma regulamentando a operação desses aparelhos e alguns vêm de fábrica com limitações que impedem que ele se aproxime da área de aeroportos. A geolocalização interfere e não permite que decole em zonas de risco", diz.

O especialista lembra que o aeroporto se divide em duas partes. Além da área de administração direta do aeroporto, há uma área de tráfego aéreo no entorno, que é prerrogativa do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), ou seja, é do Estado brasileiro.

A Anac e o Decea definem há anos restrições para a operação de drones em áreas próximas de aeroportos e aeródromos, com o objetivo de garantir a segurança aérea e evitar colisões. Eles não podem levantar voo dentro de um raio de até 5,4 km de um terminal. A partir desse afastamento a até 9 km do aeroporto, drones só podem ser operados até uma altura máxima de 30 m. Se o voo acontecer a uma distância superior a 9 km, os drones ficam liberados para atingir até 120 m de altura.

Segundo Pontes, a partir de uma determinada categoria, o drone precisa ser registrado na Anac. Atualmente a exigência é para aparelho com peso superior a 250 gramas, seja para uso recreativo ou profissional. O cadastro é feito no Sistema de Aeronaves não Tripuladas (Sisant). Os drones com peso inferior, embora não precisem deste registro, também estão sujeitos às normas de segurança.

Como aumentar a segurança?

"O aeroporto entra com medidas mitigadoras para tudo aquilo que traga algum risco para a operação. No caso dos pássaros, por exemplo, existem as aves treinadas para afugentá-los e avisos sonoros, entre outras formas de mitigação e prevenção. No caso dos drones, é um equipamento controlado por alguém e o aeroporto fica muito limitado para uma ação como essa, que acaba sendo gerenciada quando ele é visto", afirma o especialista.

Conforme Pontes, os aeroportos ainda não dispõem de bloqueios que possam impedir a entrada de drones em suas adjacências. Pela altitude em que operam, também é difícil que sejam identificados em radar. "Há ainda o risco do fly away, quando o drone pode sofrer interferência magnética e sair do controle do operador. Houve o caso, no passado, de um residente em Washington (EUA) que lançou o drone do prédio, perdeu o controle e o aparelho caiu na Casa Branca. É preciso vigilância intensa que demanda investimentos em câmeras e efetivo de segurança treinado para intervir prontamente." (COLABOROU RENATA OKUMURA)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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