Política
07h40 17 Julho 2025
Atualizada em 17/07/2025 às 07h40

Trump chama apoiadores de 'fracos' por acreditarem em caso Epstein

Por Redação, O Estado de S. Paulo Fonte: Estadão Conteúdo

Donald Trump parece cada vez mais enrolado em uma teoria da conspiração que ele mesmo promoveu. Tentando desfazer a impressão de que está protegendo cupinchas do bilionário Jeffrey Epstein, pedófilo amigo das celebridades, que morreu na cadeia em 2019, ele criticou nesta quarta-feira, 16, seus próprios apoiadores por acreditarem em uma "farsa". Deixem que esses fracos façam o trabalho dos democratas", disse. "Não quero mais o apoio deles."

Depois de morto, Epstein passou a ser um bicho-papão escolhido por Trump como cabo eleitoral na campanha presidencial do ano passado. Para marcar pontos com os eleitores radicais de sua base, ele prometeu revelar os segredos mais cabeludos do caso, que envolve tráfico sexual e abuso de menores.

A tese preferida da base trumpista é a de que Epstein não cometeu suicídio, mas foi assassinado em uma cela do Centro Metropolitano de Correção, em Manhattan. O motivo seria uma lista secreta de clientes, incluindo celebridades, magnatas e, obviamente, políticos democratas.

Quando Trump assumiu, em janeiro, seu gabinete parecia ter entendido a missão. Em fevereiro, a secretária de Justiça, Pam Bondi, convocou alguns youtubers e influenciadores conservadores para uma cerimônia na Casa Branca, na qual entregou uma pasta para cada um deles com 200 páginas de documentos - um deles intitulado "lista de provas".

Indignação

No entanto, a maior parte do conteúdo já circulava na internet e não trouxe nade relevante. Após certo incômodo da base trumpista com a falta de novidades, Bondi foi à Fox News e disse, em entrevista, que ela já tinha em mãos a famigerada lista de clientes de Epstein. "Ela está na minha mesa, pronta para ser revisada", disse a secretária ao apresentador John Roberts, no programa America Reports.

O tempo passou, e nada. Os trumpistas começaram a cobrar nas redes sociais e Bondi foi obrigada novamente a voltar ao assunto. Na semana passada, ela reconheceu que Epstein não tinha uma lista de clientes e disse que nenhum outro arquivo relacionado ao caso seria tornado público.

Para provar que o bilionário havia se suicidado mesmo, o Departamento de Justiça divulgou imagens do circuito interno da cadeia que mostram o lado de fora da cela de Epstein na noite em que ele foi encontrado morto. A revista Wired, após consultar especialistas forenses, descobriu que o vídeo foi editado e três minutos de gravação haviam desaparecido - prato cheio para alimentar a conspiração.

Foi a senha para o início de uma ruptura incomum na base republicana. Alguns influenciadores do movimento trumpista, incluindo a ativista Laura Loomer e o apresentador Glenn Beck, pediram explicitamente que Bondi renunciasse. Megyn Kelly, que já foi o rosto mais conhecido da Fox News e hoje é podcaster, chamou a secretária de Justiça de "preguiçosa ou incompetente".

Fogo cruzado

O comentarista Tucker Carlson e o ex-conselheiro de Trump, o estrategista Steve Bannon, acusaram a Casa Branca de "falta de transparência" pela forma como o governo está lidando com o caso - embora todos tenham buscado bodes expiatórios e evitado citar diretamente o presidente americano.

O episódio tem potencial para se tornar uma crise política grave, no momento em que Trump vem enfrentando sinais problemáticos surgindo no horizonte: um leve salto da inflação em junho, que economistas suspeitam já ser o primeiro resultado das tarifas disparadas sem direção, e uma popularidade que vem se aproximando da casa dos 40%, um patamar histórico baixo para os padrões de Trump.

Segundo três pesquisas - YouGov, The Economist e Gallup - os números são puxados pelo contingente cada vez maior de americanos insatisfeito com as deportações em massa de imigrantes - 35% aprovam as políticas de imigração, ante 62% que desaprovam, de acordo com o Gallup.

Trump, que sempre foi um mestre em conduzir a narrativa pelo ciclo de notícias, tem encontrado dificuldade para fazer o Caso Epstein morrer. Alguns assessores, que pediram anonimato para falar abertamente com jornalistas sobre o assunto, relataram um clima de pânico na Casa Branca.

No dia 8, um dia depois de o Departamento de Justiça dizer que a lista de clientes não existia, o presidente criticou um repórter que perguntou sobre Epstein em uma reunião de gabinete, chamando a pergunta de "sacrilégio". "Você ainda está falando sobre isso? Há anos que se fala desse cara. É inacreditável", reclamou Trump.

Ontem, o presidente afirmou que o caso era o mais recente "golpe" inventado pelos democratas, que estariam usando seus apoiadores como massa de manobra. Na sua rede social, Trump afirmou que os arquivos de Epstein haviam sido "escritos" pelo ex-presidente Barack Obama - que deixou o cargo três anos antes de o bilionário morrer.

Desafetos

Ele acusou também a ex-secretária de Estado Hillary Clinton e outros desafetos, como James Comey, ex-diretor do FBI, e John Brennan, ex-chefe da CIA - os dois estão sendo investigados por seu governo. Ontem, Maurene Comey, procuradora em Manhattan, que trabalhou no caso de Epstein, foi demitida do cargo, segundo o New York Times. Não se sabe se sua defenestração teve relação com a misteriosa lista do bilionário ou se ela pagou o preço por ser filha do ex-diretor do FBI.

Em qualquer uma das hipóteses, piorou a impressão de que o governo está escondendo alguma coisa. A principal preocupação da Casa Branca é com a relação de Epstein com o próprio Trump. Existe um extenso arquivo fotográfico circulando online dos dois em encontros sociais em Nova York.

Em um perfil de Epstein feito pela New York Magazine, em 2002, Trump descreveu o bilionário como alguém com quem compartilhava a companhia de mulheres bonitas. "Conheço Jeff há 15 anos. Um cara fantástico. É muito divertido estar com ele", disse. Elon Musk, que rompeu com o presidente em junho, disse que Trump estava na lista de Epstein. "Essa é a verdadeira razão pela qual os arquivos não foram tornados públicos", escreveu o dono da Tesla no X. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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