Política
08h20 04 Julho 2025
Atualizada em 04/07/2025 às 08h20

Visita de Lula a Cristina domina cúpula do Mercosul na Argentina

Por Giordanna Neves, enviada especial Fonte: Estadão Conteúdo

A visita de Luiz Inácio Lula da Silva à ex-presidente argentina Cristina Kirchner, em prisão domiciliar em Buenos Aires, dominou a cúpula do Mercosul nesta quinta-feira, 3. Condenada a 6 anos e à perda de direitos políticos em um caso de corrupção, ela ainda é o principal nome de oposição a Javier Milei, anfitrião do encontro.

A visita, que durou quase uma hora, ocorreu após Lula receber das mãos de Milei a presidência rotativa do Mercosul e graças a uma autorização da Justiça argentina, que atendeu ao pedido da ex-presidente e liberou a entrada do brasileiro no apartamento, localizado no bairro de Constitución, em Buenos Aires.

Após a visita, Lula se encontrou com o Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel, na residência do embaixador brasileiro. De acordo com interlocutores presentes, o presidente disse que "acredita na inocência de Cristina". Na embaixada, Lula tirou uma foto segurando um cartaz que dizia: "Cristina Livre".

"Além de prestar minha solidariedade a ela por tudo que tem vivido, desejei toda a força para seguir lutando com a mesma firmeza que tem sido a marca de sua trajetória na vida e na política", escreveu Lula, no X. "Pude sentir nas ruas o apoio popular que ela tem recebido e sei bem o quanto é importante esse reconhecimento nos momentos mais difíceis. Que fique bem e siga firme na sua luta por justiça."

A ex-presidente foi condenada a 6 anos por contratos superfaturados de obras públicas e fraudes em licitações na Província de Santa Cruz, durante sua presidência. Além de condenada à prisão - que cumpre em casa por ter mais de 70 anos -, Cristina teve os direitos políticos cassados. Ela se diz inocente e vítima de perseguição.

Encontro

Mais cedo, Lula e Milei mantiveram a mesma frieza exibida na cúpula do G20, no Museu de Arte Moderna do Rio, em novembro. Eles posaram para uma foto no Palácio San Martín, sede da chancelaria argentina, e não trocaram muitas palavras, apenas um cumprimento formal.

Durante os discursos, os dois também demonstraram visões opostas sobre a integração regional. Enquanto o presidente argentino torce o nariz para o multilateralismo e faz pressão para negociar tratados comerciais bilaterais fora do bloco, Lula defendeu o Mercosul como forma de inserção em um mercado global cada vez mais competitivo.

"Propusemos que, como bloco, nos movamos para um esquema comercial e regulatório muito mais livre, em vez da cortina de ferro à qual hoje estamos submetidos", disse Milei. "A Argentina não pode esperar, precisamos de mais liberdade, de forma urgente. Os sócios do Mercosul devem decidir se querem ajudar no caminho que iniciamos."

Ao receber a direção temporária do Mercosul, Lula defendeu a força do bloco em negociações comerciais com parceiros externos e na luta contra as mudanças climáticas. "Quando o mundo se mostra instável e ameaçador, é natural buscar refúgio onde nos sentimos seguros. Para o Brasil, o Mercosul é esse lugar", disse o brasileiro.

Livre-comércio

De prático, a cúpula de Buenos Aires celebrou a assinatura de um acordo comercial com a Associação Europeia de Livre-Comércio (EFTA), bloco econômico formado por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein. A negociação com a União Europeia, bem mais complexa, ainda não foi concluída.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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