A vacina contra a covid-19, que utiliza tecnologia de RNA mensageiro e está sendo desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), demonstrou eficácia significativa nos testes realizados com animais. Os resultados se mostraram semelhantes às vacinas de mRNA já disponíveis, como as da Pfizer e da Moderna, conforme informações de Patrícia Neves, coordenadora do Hub Regional de Desenvolvimento e Produção de Produtos RNA do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos - Bio-Manguinhos.
No momento, a Fiocruz conclui os testes laboratoriais de segurança, que devem ser finalizados em julho. “Estabelecemos a primeira área de produção com boas práticas para fabricação de produtos RNA na América Latina, um avanço notável para o Brasil. Já produzimos lotes de controle e vacina, que estão sendo utilizados nos estudos toxicológicos, sem eventos adversos graves”, afirmou Neves.
Para garantir a segurança da vacina, os animais estão passando por avaliações que envolvem análise microscópica para verificar a não toxicidade das substâncias utilizadas. Após a finalização desses testes, será solicitado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorização para iniciar os testes em humanos.
A expectativa é que até o final do ano a Anvisa conceda a autorização para a fase 1 dos testes com voluntários. Outros testes devem ocorrer até que a Fiocruz possa solicitar o registro do imunizante. Mesmo sem prazo definido para o término do processo, os resultados até agora são “bastante animadores”, segundo Neves. Os testes indicam que, em poucos anos, o Brasil poderá contar com uma vacina de mRNA contra a covid-19, desenvolvida por uma instituição pública, possibilitando à compra por parte do Ministério da Saúde a um custo reduzido.
O sucesso da vacina também validará a plataforma de RNA mensageiro criada por Bio-Manguinhos, que utiliza nanopartículas lipídicas para transportar informações genéticas do coronavírus para as células do sistema imunológico, estimulando a produção de anticorpos. Caso se prove eficaz, a tecnologia poderá ser adaptada para outras doenças, acelerando a produção de novas vacinas.
Atualmente, cinco novos projetos de vacinas estão em desenvolvimento, voltados para a leishmaniose, o vírus sincicial respiratório (VSR), a febre amarela e a tuberculose. A coordenadora Patrícia Neves enfatiza a importância de um instituto público dominar essa tecnologia, considerando as amplas possibilidades de utilização do RNA como alvo e produto para terapias diversas.