Futebol Internacional
11h10 23 Junho 2025
Atualizada em 23/06/2025 às 11h10

Como Inter Miami, rival do Palmeiras, ganhou fama e poder com Messi e magnata de origem cubana

Por Ricardo Magatti Fonte: Estadão Conteúdo

Primeiro clube das Américas a derrotar um adversário europeu desde 2012 ao ganhar do Porto na semana passada, o Inter Miami nasceu estrelado e rico. O adversário do Palmeiras nesta segunda-feira no Hard Rock Stadium ganhou fama, atenção e milhões de seguidores depois que convenceu o astro argentino Lionel Messi a trocar o futebol europeu pela não tão competitiva liga americana, em julho de 2023. No entanto, desde que foi fundado, em 2018, o clube acostumou-se a ter estrelas em seu elenco.

Com sede em Fort Lauderdale, na Flórida, o Inter Miami tem o ex-jogador David Beckham como proprietário. O inglês foi um dos primeiros jogadores a desbravar a Major League Soccer (MLS), a liga americana de futebol, quando se transferiu para o Los Angeles Galaxy, em 2007, antes de retornar à Europa para encerrar a carreira no Paris Saint-Germain.

Antes de Messi, outras estrelas passaram pela equipe de Miami. Um dos primeiros foi o também argentino Gonzalo Higuaín, que escolheu o time para se despedir dos gramados. Depois vieram Jordi Alba e Sergio Busquets, companheiros do argentino no vitorioso Barcelona de Pep Guardiola. O último a chegar - e por causa de Messi, de quem é amigo - foi Luis Suárez. O time é treinado por Javier Mascherano, outro amigo do camisa 10.

A equipe garantiu de forma controversa a sua vaga no Mundial. Classificou-se ao ganhar o MLS Supporters' Shield de 2024, troféu dado anualmente ao clube que faz a melhor campanha da temporada regular da MLS. Foi um jeito, muitos dizem, de o presidente da Fifa, Gianni Infantino, garantir que Messi jogasse o campeonato e, assim, dar atratividade à competição e conseguir bons acordos comerciais.

Quando a Fifa revelou os critérios de classificação para o torneio e o número de vagas destinadas para cada confederação, especificou que "os detalhes da vaga do país anfitrião serão comunicados oportunamente" ao longo do ano. "Lionel Messi no Mundial de Clubes faz sentido, mas como ele chegou lá é ridículo", escreveu o site The Athletic, ligado ao jornal The New York Times.

Beckham sempre foi o rosto midiático do Inter Miami, mas há, desde o início, um outro magnata responsável por aportes vultosos no clube: o cubano Jorge Mas, que depositou fortuna ao adquirir com o ex-jogador inglês o Inter Miami em 2018 - o primeiro jogo oficial da franquia foi apenas em 2020.

Jorge e seu irmão, José, se tornaram acionistas majoritários e passaram a controlar a franquia depois que compraram a parte do empresário boliviano Marcelo Claure e a do bilionário japonês Masayoshi Son.

Mas é um bilionário americano nascido em Miami, na Flórida, cuja origem familiar é cubana. Sua fortuna, segundo a revista Forbes, é estimada em US$ 2,7 bilhões - aproximadamente R$15 bilhões.

Seu pai, Jorge Mas Canosa, se exilou nos Estados Unidos após se contrapor ao regime de Fidel Castro em Cuba. Morto em 1997 por causa de um câncer de pulmão, Canosa teve papel relevante na articulação americana contra seu país natal e se tornou um importante empresário do ramo da engenharia, infraestrutura, energia e comunicações.

Após a morte de Canosa, a MasTec, empresa do ramo de construção de infraestrutura criada por meio da fusão da Burnup & Sims e Church & Tower e cujo valor de mercado é de R$ 12 bilhões, passou a ser gerida pelos filhos Jose e Jorge.

Ao contrário de Beckham, Jorge não tinha afeição por aparições públicas em temas relacionados ao Inter Miami e deixava o ex-jogador à frente da instituição, dada a sua importância histórica no futebol e pensando na atração de novos fãs para o clube e, consequentemente, para a liga local, a MLS.

"O Inter Miami é um time hiperglobal, porém local, que representa nossos fãs e nossa cidade. Somos um clube centrado e movido pela torcida e queremos criar a paixão pelo futebol em nossa cidade", disse o magnata. "Nossa cidade e nossos fãs tiram sua força dos sonhos de uma população global que chama Miami de lar".

A negociação de Messi jogou holofotes sobre a família Mas. Em 2022, porém, os empresários já haviam intensificado sua relação com o futebol ao se tornarem sócios majoritários do Real Zaragoza, que atualmente disputa a segunda divisão do Campeonato Espanhol. Jorge Mas se diz torcedor do Real Madrid. Em entrevista ao jornal El País, ele afirmou também torcer do time que joga de rosa e preto (fazendo menção ao Inter Miami) e que, sendo presidente do Zaragoza, "mudou sua lealdade".

Messi costuma repetir que ele e sua família estão felizes em Miami. Viver a passos da praia em uma cidade com forte presença de latinos, incluindo argentinos, teve peso na decisão do craque de negar proposta do futebol árabe para ser o atleta mais bem pago do planeta. Seria o maior acordo da história do futebol, superando Cristiano Ronaldo no Al Nassr. Não foi - e os sauditas se frustraram.

Não quer dizer que ganhe pouco em Miami o jogador eleito oito vezes o melhor do mundo. Ele recebe cerca de US$ 40 milhões anuais (cerca de R$ 220 milhões pela cotação atual) e tem contrato até o fim de 2025.

Segundo relatório da Associação de Jogadores da MLS (MLSPA, na sigla em inglês), o salário-base do camisa 10 é de US$ 12 milhões (aproximadamente R$ 68,28 milhões), mas há uma compensação que eleva o montante para US$ 20,4 milhões (cerca de R$ 112 milhões), valor que inclui bônus de marketing e outros benefícios.

Conforme Jorge Mas disse em 2023, a remuneração total de Messi é entre US$ 50 milhões (R$ 275 milhões e US$ 60 milhões (R$ 330 milhões). Ele também tem direito a participação nos lucros de Apple e Adidas, os dois maiores patrocinadores da MLS, além da opção de comprar uma parte das ações do Inter Miami ao se aposentar, como fez Beckham em 2007.

Os rendimentos de Messi são superiores a todas as folhas de pagamento dos times que integram a MLS. Sua presença em campo virou uma romaria de grandes estrelas dos EUA de outros segmentos, como astros do cinema e da NBA.

Ainda que o futebol não esteja entre os esportes favoritos dos americanos, as pesquisas pelas partidas nos Estados Unidos e pelo desempenho do Inter Miami só crescem. O interesse pela liga americana no mundo praticamente dobrou no último ano, enquanto o time em que Messi joga saiu da zona de total desinteresse em que se encontrava e passou a ganhar jogos e levantar taças.

Os impactos da chamada "Messi-mania" se refletem também nas vendas. Em 2023, a liga anunciou que a camisa 10 de Messi foi a mais comprada na temporada.

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