Menos de 24 horas após ser preso em flagrante por injúria racial, o meia-atacante boliviano Miguelito, do América Ferroviário PR, foi liberado da prisão em Ponta Grossa (PR) na tarde desta segunda-feira (5) e agora responderá à Justiça em liberdade. A prisão ocorreu na noite de domingo (4), quando a Polícia Civil do Paraná (PCPR) acolheu a denúncia do atacante Allano, do Operário-PR.
Durante o jogo válido pela sexta rodada da Série B do Campeonato Brasileiro no Estádio Germano Krüger, Miguelito proferiu uma ofensa racista ao se referir a Allano de forma depreciativa. A pena máxima para esse tipo de crime é de cinco anos de reclusão, conforme estabelece o Código Penal brasileiro.
A ofensa aconteceu aos 30 minutos do primeiro tempo, quando Miguelito passava por Allano durante uma cobrança de falta. A partida foi interrompida por 15 minutos, seguindo o protocolo antirracista da Fifa e da CBF, mas foi retomada. O árbitro Alisson Sidnei Furtado informou na súmula que “nenhum integrante da equipe de arbitragem no campo de jogo viu e/ou ouviu tal incidente”, e até o momento, a CBF não comentou o caso.
“Diante do relato da vítima e da análise do contexto da imagem, que evidenciou a ofensa racial, foi dada a prisão em flagrante ao jogador”, esclareceu o delegado Gabriel Munhoz, da PCPR. O inquérito policial será concluído nos próximos dias.
Embora Miguelito estivesse detido até a audiência de custódia, o Tribunal de Justiça do Paraná acatou o pedido de liberdade provisória apresentado pela defesa do atleta. Após sua saída, o Atlético-MG se posicionou nas redes sociais.
Na mesma noite do incidente, o Operário-PR também se manifestou, repudiando energicamente qualquer ato de racismo. O atacante Allano utilizou suas redes sociais para expressar indignação.
"Não vou me calar, não só por mim, mas por todos que já vivenciaram isso e por aqueles que ainda lutam para que a violência racial termine de vez. O futebol, assim como a sociedade, precisa clamar pelo fim do racismo. É essencial que tenhamos justiça, responsabilidade e empatia", defendeu Allano.
Leandro Lacerda, pós-doutor em Ciências da Atividade Física, destaca que a impunidade alimenta casos de racismo no futebol. "As punições são frequentemente brandas, e não há um precedente forte que desencoraje esses atos. Portanto, muitos infratores agem acreditando que não enfrentarão consequências significativas".