Médicos responsáveis pelo tratamento de Pedro Severino no Hospital Unimed de Ribeirão Preto (SP) concederam uma entrevista coletiva nesta quinta-feira para dar mais detalhes sobre o processo de recuperação do jovem. O atacante do time sub-20 do Red Bull Bragantino recebeu alta nesta quarta após quase cem dias de internação.
Gil Teixeira, líder da equipe do caso e coordenador da UTI, afirmou que a reabilitação de Pedro superou as expectativas dos médicos e da família. "Estamos falando de um paciente com traumatismo craniano grave em que 50% dos pacientes vão a óbito", explicou. "Há 98 dias estava lutando pela sobrevivência e muitas coisas positivas aconteceram. Isso mostra que a gente nunca pode subestimar um paciente jovem".
Ao todo, o atleta passou por quatro procedimentos cirúrgicos: uma traqueostomia, uma gastrostomia (para alimentação) e duas neurocirurgias. A primeira serviu para "corrigir o cérebro", afetado pela perda de parte do osso craniano, e colocar uma prótese. Na segunda, os cirurgiões reconstruíram a base do crânio e fecharam uma fístula causada pela operação anterior.
"O material utilizado (na prótese) é biocerâmica, é feito por impressora 3D, é esterilizado e, teoricamente, não precisa ser retirado mais" comentou o neurocirurgião Romeo Boullosa. "Ela tem uma integração muito boa com o osso normal, é fixada com parafusos de titânio e faz parte da anatomia do paciente."
É difícil prever quais evoluções Pedro ainda pode ter em sua autonomia, agora que estará fora do hospital. "A batalha extra hospitalar ainda é um caminho longo", afirmou Teixeira, que reforçou a importância do apoio psicológico vindo da família do paciente. "Eles estão prontos para lidar com o que vai vir", disse.
"Em um primeiro momento achávamos que ele não estava enxergando nada, mas ele está reconhecendo as pessoas e jogando videogame no celular. Agora, qual é a qualidade dessa visão? Só o tempo vai dizer", contou Boullosa. Ele elucidou ainda que o lado esquerdo do corpo de Pedro foi o mais afetado, por conta do maior impacto no lado direito do cérebro, mas crê que os movimentos ficarão próximos da normalidade com o tempo.
Apesar de parecer preocupante, Amanda Benelli Kujavo, cardiologista coordenadora de enfermagem, afirmou que Pedro deixou a internação em uma condição satisfatória. "Ele está consciente, orientando e verbalizando", disse. "Quando o Pedro é estimulado com fala, ele responde, mas de maneira lenta. Ele tem um quadro inflamatório que ainda precisa ser melhorado."
Ela detalhou o tratamento de recuperação do garoto. "Em todas as sessões de terapia ele tem jogado bola", revelou. "Com 30 e 40 dias, ele já estava fazendo movimentos com a bola. O que estimula essa melhora é a neuroplasticidade, a capacidade que o cérebro tem de fazer novas conexões, e isso depende de estímulos. Por isso, a bola foi a primeira coisa que pensamos em oferecer a ele."
Ainda é cedo para dizer quando Pedro voltará a jogar bola. São necessários ao menos dois anos para os médicos conseguirem falar em sequelas definitivas. A equipe não planeja uma nova cirurgia.
RELEMBRE O CASO
O atacante de 19 anos sofreu um acidente de trânsito na madrugada do dia 4 de março, na rodovia Anhanguera, no interior de São Paulo. O carro que transportava o jogador e um colega de time, que viajaram para se apresentarem ao treinador da equipe sub-20 do Red Bull Bragantino, se chocou com a traseira de um caminhão.
O garoto, que é filho de Lucas Severino, ex-Corinthians e Athletico-PR, estava no banco do passageiro. Pedro foi levado ao hospital com um traumatismo craniano e em estado gravíssimo. Horas depois, a equipe médica abriu procedimento para confirmação de morte encefálica do jogador, mas o interrompeu no dia seguinte devido a um quadro de tosse.
"A abertura do protocolo de morte encefálica são etapas de avaliações médicas em intervalos diferentes, constatando ou não o funcionamento do cérebro. Podemos falar da assertividade da descontinuação do protocolo", disse Gil Teixeira, nesta quinta.
Cerca de vinte dias depois, Pedro foi transferido da UTI para um quarto. "Sob atendimento de alta complexidade há 19 dias consecutivos, prestado por médicos intensivistas, neurocirurgiões, neurologistas clínicos e equipe multidisciplinar, coordenados pelo médico intensivista Gil Teixeira, o paciente foi transferido da UTI para o quarto no início da noite desta segunda-feira (24/3) para a continuidade do tratamento. A equipe médica esclarece que, o quadro neurológico de Pedro Severino ainda inspira cuidados e necessita manutenção de internação hospitalar", informou boletim oficial, à época.
Somente no dia 22 de maio, o pai de Pedro informou que o garoto já não sofria risco de morte. "Depois de 80 dias de muita angústia, muito choro, porém muitas surpresas e muitas alegrias, o Pedro esta vivo e viverá!", escreveu nas redes sociais. "Repetimos que não sabemos como agradecer tantas correntes de oração e positividade, isso fez a diferença pra nos encorajar!".