Forças de Israel abriram fogo nesta terça-feira, 3, contra pessoas que se dirigiam a um local de distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza na terça-feira,3. Segundo autoridades de saúde ligadas ao grupo terrorista Hamas e testemunhas do episódio, ao menos 27 pessoas morreram e mais de 180 ficaram feridas.
O Exército disse que atirou "perto de alguns suspeitos individuais" que saíram da rota designada, se aproximaram de suas forças e ignoraram os tiros de advertência.
Em um comunicado, o porta-voz do Exército israelense Effie Defrin disse que o número de vítimas publicado pelo Hamas era exagerado. Ainda de acordo com o porta-voz, os palestinos não tiveram o acesso ao local negado e o incidente estava sendo investigado.
Aumento da violência
A retomada da entrega de ajuda humanitária em Gaza tem se tornado violenta nos últimos dias. No fim de semana, 44 pessoas morreram, segundo autoridades palestinas.
Após três meses proibindo a entrega de mantimentos no território palestino, Israel permitiu a retomada com o auxílio de uma fundação apoiada pelos Estados Unidos, chamada Fundação Humanitária de Gaza.
Nesse novo esquema, que prescindiu da participação da ONU e outras entidades, foram estabelecidos pontos de distribuição de ajuda dentro de zonas militares israelenses. Antes, a distribuição era coordenada pela ONU de maneira independente.
As Nações Unidas rejeitaram o novo sistema, dizendo que ele não resolve a crescente crise de fome em Gaza e permite que Israel use a ajuda como arma contra civis palestinos.
Sobre os disparos desta manhã, a Fundação Humanitária de Gaza afirma que não houve violência dentro ou ao redor deles. Na terça-feira, ela disse que o Exército israelense estava investigando se civis foram feridos depois de se deslocarem para além do corredor seguro designado e entrarem em uma zona militar fechada.
Os cerca de 2 milhões de habitantes de Gaza dependem quase totalmente da ajuda internacional, depois de a ofensiva de Israel destruiu quase toda a capacidade de produção de alimentos de Gaza. A ajuda limitada começou a entrar novamente no final do mês passado, após pressão de aliados e alertas sobre o risco de uma epidemia de fome no território.
Yasser Abu Lubda, um deslocado de 50 anos de Rafah, disse que o tiroteio começou por volta das 4h da manhã de terça-feira e que viu várias pessoas mortas ou feridas.
Neima al-Aaraj, uma mulher de Khan Younis, disse que o fogo israelense foi indiscriminado. Ela acrescentou que, quando conseguiu chegar ao local de distribuição, não havia mais ajuda. "Não voltarei", disse ela. "De qualquer forma, vamos morrer."
Rasha al-Nahal, outra testemunha, disse que quando chegou ao local de distribuição recolheu macarrão do chão e resgatou arroz de um saco que havia sido jogado no chão e pisoteado.
Hisham Mhanna, porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, confirmou o número de vítimas, dizendo que seu hospital de campanha em Rafah recebeu 184 feridos, 19 dos quais foram declarados mortos ao chegar, com outros oito morrendo posteriormente devido aos ferimentos.
Os mortos foram transferidos para o Hospital Nasser, na cidade de Khan Younis. Três crianças e duas mulheres estavam entre os mortos, de acordo com Mohammed Saqr, chefe de enfermagem do hospital. O diretor do hospital, Atef al-Hout, disse que a maioria dos pacientes tinha ferimentos a bala.
Jeremy Laurence, porta-voz do escritório de direitos humanos da ONU, disse aos repórteres que também havia informações indicando que 27 pessoas foram mortas.
"Os palestinos foram apresentados à escolha mais sombria: morrer de fome ou correr o risco de ser morto ao tentar acessar os escassos alimentos que estão sendo disponibilizados por meio do mecanismo militarizado de assistência humanitária de Israel", disse Volker Türk, alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, em um comunicado.
Ajuda humanitária
A Fundação Humanitária de Gaza disse que distribuiu 21 caminhões de alimentos no local de Rafah na terça-feira, enquanto seus outros dois locais operacionais foram fechados.
Durante um cessar-fogo no início deste ano, cerca de 600 caminhões de ajuda humanitária entravam em Gaza diariamente.
Israel afirma que o novo sistema de distribuição de ajuda humanitária foi concebido para impedir que o Hamas roube a ajuda. A ONU afirma que a sua própria capacidade de entregar ajuda humanitária em Gaza tem sido prejudicada pelas restrições israelenses e pelos saques generalizados, mas que não há provas de desvio sistemático da ajuda por parte do Hamas.