A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros prometida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em resposta à "perseguição" contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem mobilizado as redes sociais e pode estar frustrando a estratégia dos bolsonaristas de pressionar os Poderes em benefício do ex-chefe do Executivo.
Levantamento do analista em monitoramento de redes sociais Pedro Barciela mostra que 78% das menções à crise expressam repúdio à taxação dos produtos brasileiros e à atuação da família Bolsonaro, especialmente à do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Filho do ex-presidente, o parlamentar licenciado se mudou para os Estados Unidos em fevereiro em busca de sanções contra autoridades brasileiras para ajudar o pai, réu por golpe de Estado no Supremo Tribunal Federal (STF).
Apenas 12% das menções expressam apoio ao presidente americano. Foram analisados mais de 35 mil comentários em perfis de portais da imprensa nas redes sociais. A estratégia é usada para afastar da análise os nichos de páginas bolsonaristas ou governistas, que tendem a reunir apenas apoiadores.
"É possível afirmar que a perspectiva bolsonarista do episódio, que envolve a defesa de 'punição coletiva' como resposta à impunidade de um indivíduo (Jair Bolsonaro) não gerou a catarse esperada nas redes, muito pelo contrário", analisou Barciela.
A análise agrupou as temáticas mais abordadas nos comentários e concluiu que 29% deles mencionam o princípio da reciprocidade, destacam a soberania nacional e o direito de o Brasil revidar a ameaça tarifária.
Outros 24% atribuem aos aliados de Bolsonaro a responsabilidade pela taxação, acusando a família do ex-presidente de "antipatriotismo", e criticam também parlamentares do PL por apoiarem as resoluções americanas.
Ainda segundo a análise, 21% dos comentários usam ataques pessoais a Trump para criticar a medida do republicano, e termos como "patriotários" e "vira-latas" foram usados para falar sobre o posicionamento da direita brasileira a favor da taxação. Foram 16% das menções destacando preocupação com os riscos econômicos das medidas, e 10% consideraram que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demonstra força no episódio.
Como mostrou o Estadão, enquanto políticos de direita foram para as redes endossar a decisão do presidente americano, culpando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo, e o governo Lula, governistas acusam incoerência dos bolsonaristas "patriotas" em defenderem sanções econômicas contra o próprio País.