Donald Trump foi vaiado assim que começou a execução do hino nacional dos Estados Unidos antes da final do Mundial de clubes, por parte dos presentes no MetLife Stadium, em New Jersey. A transmissão oficial logo cortou a imagem da autoridade norte-americana. O político não se intimidou e foi ao gramado após os 3 a 0 do Chelsea sobre o Paris Saint-Germain para entregar a taça os ingleses. E ficou no meio dos campeões, como se também comemorasse, ignorando novo apupos das arquibancadas, constantes na vida de outros presidentes, sobretudo no Brasil.
Daqui menos de um ano ocorre a Copa do Mundo de seleções, com Estados Unidos, México e Canadá dividindo a realização da primeira competição com 48 países. E certamente Trump marcará presença como fez neste domingo. Na abertura, menos provável por ocorrer na Cidade do México, dia 11 de junho. Mas na decisão, novamente no MetLife Stadium, dia 19 de julho, certamente vai querer repetir o ato de estar na entrega de taça.
No Mundial de Clubes, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, não conseguiu afastar Trump da festa inglesa. Resta saber como será daqui pouco mais de 13 meses. E também como o presidente dos Estados Unidos vai querer se comportar.
Aqui no Brasil, desrespeitar a principal autoridade em exercício é coisa comum.
Atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva já foi alvo da revolta de um estádio no qual governava. Antes do Jogos Pan-Americanos de 2007, falhou em sua missão de declarar aberta a competição no Maracanã, no Rio de Janeiro, após ouvir os apupos da torcida quando apareceu no telão e nas vezes em que seu nome era citado por demais autoridades. Coube a Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), modificar o protocolo, evitar mais constrangimentos, e anunciar a largada do Pan.
Lula deixou o estádio em silêncio na época e não deu declarações sobre as vaias na cerimônia posteriormente. Sentiu na pele o que dizia o jornalista Nelson Rodrigues, de que no Maracanã "vaia-se até minuto de silêncio".
Dilma Roussef, que assumiu a presidência do Brasil após os dois primeiros mandatos de Lula, também viveu situação semelhante. Por mais vezes e em três estádios distintos. Em 2013, no Mané Garrincha, em Brasília, a presidenta não se intimidou e discursou na abertura da Copa das Confederações.
Em 2014, ela voltou a sofrer com o clima hostil na abertura da Copa do Mundo, em Itaquera, na agora Neo Química Arena, e depois no Rio, na decisão. Após a Alemanha conquistar o título com 1 a 0 sobre a Argentina na prorrogação, no Maracanã, Dilma foi ao gramado para entregar o troféu aos europeus e teve de encarar a revolta das arquibancadas. Ao lado de Joseph Blatter, entregou a taça para o capitão alemão Philipp Lahm sob vaias e ofensas pesadas, o que já havia ocorrido antes e no decorrer da final.
Para evitar um clima ainda mais hostil, os telões evitaram mostrar Dilma antes da premiação e o sistema de som do Maracanã colocou músicas altas para ofuscar o desrespeito à presidenta, que ficou com o troféu em mãos por poucos segundos.
Michel Temer assumiu o cargo de Dilma após o impeachment e também recebeu a desaprovação das arquibancadas do Maracanã. Na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, onde um apelo à tolerância era o símbolo da competição, o político quase não foi ouvido quando declarava a largada da competição tamanho os apupos.
O nome de Temer não estava no programa do Comitê olímpico Internacional (COI) no decorrer do evento de abertura da Olimpíada, o que evitou desagrados desde o início. Apenas no fim, quando o presidente em exercício apareceu, que a revolta foi gigantesca.
Nem mesmo a chegada de Jair Bolsonaro à presidência evitou que as manifestações de repúdio em estádios continuassem. Amante de futebol, mesmo sem competições internacionais no País no período, o político vestiu diversas camisas de clubes e foi a suas arenas para torcer.
Declarado palmeirense - comemorou o título brasileiro de 2018 no campo após entregar a taça aos jogadores no gramado do Allianz Parque, em misto de apoio e apupos -, acabou revoltando as torcidas oponentes. E a recepção nem sempre foi calórica nos estádios rivais, com vaias no MorumBis ao acompanhar um jogo das oitavas da Copa do Brasil de 2023 no qual foi acusado de "penetra" - estava à convite do governador Tarcísio de Freitas - e também na Vila Belmiro, com nota de que "não era bem-vindo ao local", divulgada pala Torcida Jovem.
Dia desses, pelo Campeonato Carioca, ao comparecer a um clássico entre Vasco e Fluminense, no Mané Garrincha, em Brasília, Bolsonaro ouviu um jingle nada amistoso de que "uh, vai ser preso, uh, vai ser preso", em referência ao julgamento no STF e teve de ficar fora da visibilidade dos torcedores.
Sem jamais se arriscar a ir ao estádio do Corinthians, Bolsonaro viu seu filho, Eduardo, ter de enfrentar a ira dos corintianos na Neo Química Arena em evento em 2023. O deputado federal foi bastante vaiado na ocasião e não adiantou tentar justificar que "apenas" seu pai era palmeirense. Deixou o local irritado em uma demonstração que eventos esportivos no Brasil não se alinham aos políticos.
Em 1940, anos após a Revolução Constitucionalista de 1932, o então presidente Getúlio Vargas foi fortemente vaiado pelos quase 70 mil presentes nas arquibancadas paulistanas na inauguração do Estádio do Pacaembu.