Conflitos
18h20 24 Julho 2025
Atualizada em 24/07/2025 às 18h20

Macron anuncia que França reconhecerá o Estado palestino na próxima Assembleia Geral da ONU

Por Redação O Estado de S. Paulo Fonte: Estadão Conteúdo

A França reconhecerá o Estado palestino durante a próxima Assembleia Geral da ONU, que será realizada em setembro, em Nova York, anunciou nesta quinta-feira, 24, o presidente, Emmanuel Macron, nas redes sociais. O francês vem dizendo há meses que seu país reconheceria o Estado e definiu uma data após os relatórios de pessoas morrendo de fome na Faixa de Gaza.

"Fiel ao compromisso histórico com uma paz justa e duradoura no Oriente Médio, decidi que a França reconhecerá o Estado da Palestina. Anunciarei isso solenemente durante a Assembleia Geral da ONU no próximo mês de setembro", escreveu Macron no X e no Instagram. Ele também publicou uma carta que enviou ao presidente palestino Mahmoud Abbas sobre a decisão.

A França e a Arábia Saudita vão copresidir uma cúpula internacional de chefes de Estado e de governo com o objetivo de relançar a chamada solução de dois Estados, um palestino e outro israelense. Essa conferência estava inicialmente prevista para junho, mas foi adiada devido à guerra de 12 dias entre Israel e o Irã.

Até o momento, pelo menos 142 Estados reconheceram o Estado palestino, de acordo com uma contagem realizada pelas agências de notícias. Mas os Estados Unidos e a maioria de seus aliados próximos não, especial Israel.

A França se tornará o maior e mais poderoso país europeu a reconhecer a Palestina e a primeira do G-7 - que também inclui Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Alemanha, Japão e Itália - a fazê-lo. A medida provavelmente irritará o governo Donald Trump.

O presidente francês ofereceu apoio a Israel após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023 e frequentemente se manifesta contra o antissemitismo, mas está cada vez mais frustrado com a guerra de Israel em Gaza, especialmente nos últimos meses.

Macron declarou no X que atualmente é urgente "que a guerra em Gaza cesse e que se preste socorro à população civil".

Nesse contexto, "é preciso finalmente construir o Estado da Palestina, garantir sua viabilidade e permitir que, ao aceitar sua desmilitarização e reconhecer plenamente Israel, ele participe da segurança de todos no Oriente Médio", acrescentou o presidente.

Com essa medida, a França busca "dar uma contribuição fundamental para a paz no Oriente Médio e mobilizará todos os seus aliados internacionais que desejarem participar", escreveu Macron em uma carta dirigida ao presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que administra parcialmente a Cisjordânia.

O anúncio ocorreu logo após os EUA interromperem as negociações de cessar-fogo em Gaza no Catar, dizendo que o Hamas não estava demonstrando boa fé.

O vice-presidente da Autoridade Palestina, Husein al Sheij, comemorou o anúncio e agradeceu Macron. "Esta postura reflete o compromisso da França com o direito internacional e seu apoio ao direito do povo palestino à autodeterminação e ao estabelecimento de nosso Estado independente", acrescentou o vice-presidente da Autoridade Palestina.

O vice-primeiro-ministro de Israel, Yariv Levin, criticou a medida e afirmou que isso representa "uma mancha na história francesa e uma ajuda direta ao terrorismo". Levin, que também é ministro da Justiça, afirmou que a "decisão vergonhosa" da França implica que agora é "o momento de aplicar a soberania israelense" na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967.

A França tem a maior população judaica da Europa e a maior população muçulmana da Europa Ocidental, e os conflitos no Oriente Médio muitas vezes resultam em protestos ou outras tensões na França.

Mortes por inanição em Gaza

A escassez de água, alimentos e remédios na Faixa de Gaza agravou os casos de desnutrição aguda no território palestino e levou à morte de ao menos 45 pessoas nos últimos quatro dias, segundo a ONU. As imagens de crianças esqueléticas estamparam as redes sociais e as capas dos principais jornais internacionais, ampliando a pressão internacional por um cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

Uma nova proposta de trégua está no limbo depois de o premiê israelense, Binyamin Netanyahu ter convocado os negociadores em Doha de volta para Israel. O negociador americano Steve Witkoff acusou o Hamas de não negociar de boa fé e não querer de verdade uma trégua. A União Europeia, no entanto, ameaçou Israel de sanções caso o fluxo de ajuda não melhore.

Segundo entidades como o Comitê Internacional de Resgate e o Programa Mundial de alimentos, cerca de 500 mil palestinos, de uma população de 2 milhões, sofrem insegurança alimentar e outros 100 mil estão em situação de inanição. Um terço da população chega a ficar vários dias sem comer e há o temor de que a situação piore sensivelmente nos próximos dias.

Questionado sobre o problema, o porta-voz do governo israelense, David Mencer, afirmou que não há uma fome causada por Israel. "Trata-se de uma escassez provocada pelo Hamas", disse ele, que acusou o grupo de impedir a distribuição da ajuda e saquear parte dela. O Hamas nega essas acusações.

Desde a segunda-feira, países europeus e entidades de defesa dos direitos humanos como os Médicos Sem Fronteiras (MSF), Save the Children e Oxfam têm pressionado o governo israelense para ampliar a entrada de ajuda humanitária em Gaza.

Atualmente, 70 caminhões entram por dia em Gaza, de um total de 160 previsto por um acordo entre Israel e a União Europeia. O mínimo viável, segundo o Programa Mundial de Alimentos, são 100.

VEJA TAMBÉM

Economia
Fechamento do mercado financeiro
18h50 25 Julho 2025